Verbete: Agosto / 2007.

Ramsey

Dicionário de Economia do Século XXI.

RAMSEY, Frank Plumpton (1903-1930). O primeiro fato que chama a atenção na vida de Frank Ramsey é sua morte prematura, causada por icterícia aos 27 anos de idade. É admirável que uma pessoa tão jovem tenha deixado um legado tão importante para a ciência, especialmente a Economia. Filho de um matemático membro e posteriormente presidente do Magdalene College, Frank Ramsey foi membro do Trinity College, e do King’s College, neste último se dedicou como conferencista ao ensino da matemática. Como aluno de graduação, contribuiu para a tradução do alemão do texto de Wittgenstein, Tractatus Logicus Philosophicus aprovado pelo filósofo. Estabeleceram-se entre os dois laços de amizade que levaram Ramsey a visitar Wittgeinstein na Áustria, onde ele se dedicava a ensinar numa escola de aldeia (vivendo em condições espartanas), a fim de esclarecer passagens daquele texto que ainda permaneciam obscuras para Ramsey. Juntamente com Piero Sraffa, Frank Ramsey recebeu as únicas menções feitas por Wittgeinstein no prefácio de sua obra póstuma Philosophical Investigation como aqueles que haviam contribuído para o desenvolvimento de suas idéias.

A obra de Ramsey é bastante ampla apesar de seu curto período de vida. Inclui temas de matemática, lógica, probabilidades e economia. Suas contribuições para a matemática consistiram em uma continuação dos métodos de Bertrand Russel e Whitehead, desenvolvidos nos Principia Mathematica, modificando tais métodos por influência de Wittgeinstein e conduzindo-os para uma visão mais pragmática. Nessa área, seu trabalho resultou na formação de uma subdisciplina da análise combinatória conhecida como Ramsey Theory. Na Economia, as maiores contribuições de Ramsey ocorreram na área das probabilidades, do crescimento econômico e da tributação. O conceito de probabilidade de Ramsey deu origem à Teoria Subjetiva da Probabilidade. Seu ponto de partida foi uma crítica à visão de Keynes que, segundo Ramsey, confundiu a percepção da probabilidade com a idéia da existência de relações de probabilidade.

Para Ramsey, probabilidade deveria sempre significar proporções. Assim, se observarmos que se a probabilidade de alguém se recuperar de varíola é de três quartos, estamos afirmando, de acordo com nossa experiência, que dos casos de pessoas que contraíram a doença, três quartos se recuperaram. O que é mais comum, no entanto, é que os agentes construam linhas de crenças racionais para definir certas estratégias e que a racionalidade dessas crenças pode ser julgada pelo seu sucesso. As pessoas começam a atribuir probabilidades para diferentes eventos. Essas probabilidades são subjetivas e não têm nenhuma sanção a priori na lógica ou na natureza.

Ramsey constrói esses diferentes graus de crença como valores de apostas, já que, segundo ele, todas as probabilidades devem poder ser reduzidas a números. Além disso, as probabilidades iniciais definidas subjetivamente poderiam se aproximar das probabilidades objetivas por meio de um processo de aprendizagem.

Diferente de Keynes que via a probabilidade como um encadeamento lógico sobre o qual podemos estar mais ou menos seguros, Ramsey tinha uma versão pragmática da probabilidade, ou seja, o aprendizado pela indução pode fazer dela um hábito mental que funciona.

Keynes considerava as idéias de Ramsey formuladas em A Mathematical Theory of Saving de 1928, “uma das mais notáveis contribuições para a economia matemática, jamais realizadas”. Ramsey perguntava quanto da renda de um país deveria ser poupada. A formulação de Ramsey, que serviu de modelo para todos os estudos subseqüentes de crescimento ótimo, supunha um mundo com um só bem no qual a força de trabalho, juntamente com um determinado estoque de capital, produziria um fluxo de bens. Parte desse fluxo seria consumida e a outra parte adicionada ao estoque de capital. O critério seria obter vários níveis de fruição em novos períodos, contrapondo a utilidade do consumo à desutilidade da atividade do trabalho. Esse valor máximo Ramsey identificou pelo termo bliss.

Do ponto de vista econômico, o problema foi abordado a partir da restrição de que a utilidade marginal do consumo deve cair até o ponto em que a taxa de juros seja igual à produtividade marginal do capital. Essa condição, juntamente com as hipóteses de um estoque inicial de capital e de que o tempo tende para infinito, produz uma equação diferencial que deve ser integrada para dar o resultado econômico. Para o tratamento matemático, Ramsey mostrou que o “cálculo de variações” poderia dar resultado correspondente ao resultado econômico.

A Teoria da Tributação. A terceira contribuição de Ramsey, identificada como Teoria da Tributação, é uma abordagem muito mais geral, embora as aplicações práticas sejam mais freqüentes nesse campo de análise. Em termos mais gerais, a análise é denominada Ramsey Prices, ou Preços Ramsey, e procura mostrar como firmas, cujas atividades apresentam economias de escala, perderão dinheiro se igualarem seus preços a seus custos marginais, e que os preços que procuram estabelecer a partir de seu modelo seriam ótimos, ou seja, economicamente eficientes, dada a restrição de que os lucros das firmas sejam não-negativos.

Tais preços seriam também aqueles necessários para a maximização do “excedente dos consumidores-produtores”, ou seja, os preços a serem estabelecidos deveriam desviar-se dos custos marginais de maneira que fariam as quantidades produzidas e as quantidades consumidas serem tais que, além de satisfazer restrição do lucro, afastariam as economias o mínimo possível de seus níveis ótimos de produção e consumo.

Tal modelo de preços pode ser aplicado no processo de tributação, pois os tributos cujos valores são determinados ex-ante mesmo em situações em que o preço poderia ser igual ao custo marginal, estabelecem uma diferença entre ambos. Assim, o problema de determinar o vetor das taxas ótimas aparece também como um problema de determinar o vetor de desvios que provoque a menor perda de bem-estar possível para a Economia. Em síntese, a definição de preços ótimos e da estrutura de tributação mais adequada é fundamentalmente equivalente. Veja também Excedente do Consumidor; Keynes, John Maynard; Probabilidade; Sraffa, Piero.

(Verbete elaborado por Luiz Antonio de Oliveira Lima)