Parodiando o que teria dito um controvertido ex-ministro da fazenda, a atual política econômica “se perde em visão cosmogônica, ganha em efeitos pirotécnicos”.
De fato, ações pontuais em profusão vão avançando e a visão de conjunto se esvai provocando incertezas e distorções, especialmente nos investidores privados. Os rojões num estádio animam e entusiasmam os torcedores – no caso os consumidores – mas a fumaça produzida pela pirotecnia, impede que os jogadores vejam onde esta a bola e o juiz tem que interromper a partida esperando que o nevoeiro se dissipe.
Retirar impostos de automóveis e outros bens agrada o consumidor. As montadoras expandem a produção ocupando a capacidade ociosa mas aguardam o fim do benefício pois sabem que não é para sempre. Que acontecerá então? Ou será que outros serão criados? O consumo se excita, mas o investimento não sai da toca. Para dar uma ideia do desequilíbrio entre estas lâminas da tesoura do crescimento ( uma maior que a outra) basta registrar que em 2012 as montadoras venderam mais automóveis, mas produziram um numero menor de veículos em comparação com 2011. Esta aparente contradição se explica: venderam mais carros – consumo – e menos caminhões e ônibus – investimento.
O governo não pode perpetuar a isenção de tributos, pois sua arrecadação esta em perigo. No final de 2012 para cumprir a meta do superávit primário foi obrigado a um malabarismo contábil que espremeu contra a parede a Caixa Econômica o BNDES e o fundo soberano. Para quê? Em busca de receita extra para cumprir a meta do superávit primário. A desconfiança se alastra. A credibilidade das contas públicas e a suspeita que a verdadeira inflação esta sendo escondida ( ao estilo Kirchner) se esparrama entre os investidores.
O torniquete na Petrobras que bloqueia o reajuste do preço dos combustíveis ajuda a segurar a inflação. Consumidores gostam, mas a receita da Petrobras definha. Esta demora paralisa e retarda investimentos indispensáveis na produção de petróleo. É provável que, como em outras ocasiões, o governo aguarde para dar a má notícia do reajuste dos combustíveis – cujo efeito imediato sobre os fretes e o transporte coletivo pressionará a inflação – com a redução das tarifas de energia elétrica prometida desde setembro do ano passado. Mas, a estiagem obrigando o governo a acionar as termoelétricas ao limite pode neutralizar em parte esta redução de tarifas, pois o KW parido pelo óleo combustível ou o carvão é mais caro do que o da água movendo turbinas. A ameaça, embora ainda distante de um novo apagão já começa a preocupar: em 2001 o racionamento provocou uma queda de 1,5 pontos percentuais no Pibinho daquele ano. Energia elétrica barata, abundante e garantida é essencial para dissipar a fumaça e deixar o horizonte claro para os investidores.
O cambio valorizado também faz estragos na balança comercial reduzindo o superávit para o menor nível em 10 anos. Além disso, apresenta um dilema shakespeariano: se o real for desvalorizado – o que é essencial para a retomada das exportações de manufaturados e estímulo à indústria – a inflação fura o teto da meta. Se não for os salários crescendo mais do que a inflação e a produtividade recortam os lucros. Para recuperá-los os empresários repassam aos preços – especialmente daquilo que não pode ser importado como a maioria dos serviços – e a inflação continuará sofrendo perigosas pressões.
A situação internacional também não ajuda. Quando a maré baixa os que estão pelados tem que proteger sua nudez mas isto contraria os vigilantes da OMC. Para alguns a solução é ir mais para o fundo, mas correm o risco de morrer afogados. É o caso da nossa indústria. Sofrendo o “bullying” cambial perde terreno para os made in China. O consumo interno começa a ratear com a inadimplência. A galera da classe D que se moveu para a classe C, sem poder assumir novos crediários e em dificuldades para pagar os já contraídos, ameaça voltar ao nível anterior. Mas, enquanto o emprego, os salários e a renda estiverem em elevação o prestígio do governo se manterá. É possível manter este estado de coisas até 2014 enganchando com a Copa e as eleições?. Talvez o combustível seja suficiente para obter um segundo mandato. Depois, é preparar-se para pagar a conta. Já vimos algo semelhante acontecer durante o período FHC.
Ah! Já ia me esquecendo de 2013! Em 2012 tivemos um Pibinho. Para 2013 o governo promete um Pibão. Mas parece que estamos indo mais para o inho do que para o ão.