“Tudo sugere a existência de um certo ponto da mente no qual vida e morte, real e imaginário, passado e futuro, o comunicável e o incomunicável, as alturas e a profundidade, deixam de ser percebidos como contraditórios.Ora, seria em vão que se buscaria qualquer outro motivo para a atividade surrealista a não ser a esperança de determinar este ponto”
(André Breton, Deuxiéme Manifeste du Surréalisme, Paris 1930)
Um sujeito tenta tomar um avião com uma bomba. É preso pela polícia. Interrogado, diz o seguinte: “Era obrigado a viajar muito de avião e temia que alguém colocasse uma bomba num deles. Consultou um especialista em probabilidades, e este lhe disse que o risco era ínfimo: mas suficiente para deixá-lo muito angustiado.
Assim, ele não pisava mais num avião a não ser com uma bomba debaixo do braço pois segundo o especialista, a probabilidade de duas bombas num mesmo avião, era praticamente zero; e isto satisfazia suas exigências de segurança”.
Os policiais consideraram a resposta consistente e muito convincente, e soltaram o preso.
Esta pequena estória adaptada de John Allen Paulos, que se passa evidentemente nos Estados Unidos, ilustra um campo de análise novo em economia, no qual os psicólogos se sentem à vontade e que consiste em identificar comportamentos que diferem de um modelo padrão, para criar novos padrões – com o perdão da incongruência – atípicos…ou não-mercado.
Economia experimental ou “neuroeconomics”, a primeira, espécie de caixa de ferramentas da segunda, já produziu dois Prêmio Nobel em Economia: Daniel Kahneman e Vernon Smith. Bem qual é o objetivo dessa nova abordagem?
Na Era da Incerteza é ter melhores meios de realizar a espinhosa tarefa das previsões. Se os meandros do cérebro que levam as pessoas a tomar decisões ( econômicas) forem conhecidos, as incertezas poderão ser reduzidas. Bastaria ligar uns fios…
A meteorologia melhorou seus vaticínios depois da rede de satélites que hoje coalham a abóbada celeste e saturam os computadores com informações. Da mesma forma , as previsões econômicas, com estas novas abordagens e com o auxílio de supercomputadores, podem alcançar maior grau de precisão evitando uma série de efeitos colaterais entre os quais o desperdício e especialmente as crises financeiras que tanto tem prejudicado a economia mundial e especialmente a brasileira.
Alguém já disse que a incerteza é o que os outros vão fazer. Se estes processos puderem ser mapeados com um razoável grau de precisão as estratégias do tipo ganha-ganha serão muito mais freqüentes, para o bem do povo e felicidade geral do leão.
O grande problema é a assimetria na apropriação destas informações. Se tais conhecimentos não se distribuírem democraticamente, a possibilidade de manipulação poderá tornar-se mais uma ferramenta para oprimir corações e mentes. Caso este conhecimento seja distribuído generosamente, como um italiano jogando queijo sobre o próprio macarrão, o mundo será melhor servido. Lamentavelmente a economia perderia muito das fortes emoções que hoje nos proporciona.
Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br