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set 06 2016

Corujas não caçam morcegos ao meio-dia!

Descomunal equívoco – para dizer o mínimo – é a narrativa que alguns economistas ex conselheiros da ex-Presidente tentam elaborar para salvar-lhe a alma, e a deles também.

A prosa enganosa consiste em afirmar que ao invés de pedaladas fiscais o que a Presidente praticou, em 2015, foi uma política de intensa redução de gastos, ou “despedaladas” fiscais. Despesas previstas foram cortadas devido à queda da arrecadação o que teria contribuído – além da Operação Lavajato – para o agravamento da crise… Tais cortes jogaram água no moinho da crise. Trocando em miúdos: a presidente não cometeu crime de responsabilidade, mas optando por uma política econômica equivocada, levou o país à recessão e ao desemprego.
Livram a ex-presidente do crime de responsabilidade fiscal, e montam um “hedge” para salvar a própria pele: diante do inevitável ajuste fiscal que o novo governo deverá tentar fazer e do enorme desgaste político-eleitoral decorrente posarão de defensores de uma política econômica desenvolvimentista que garantiria emprego e renda para a enorme massa de deserdados. A desculpa mais parece a do sujeito que deflora uma donzela e se recusa a casar com ela alegando não ser a moça mais virgem…

Esta esdrúxula narrativa, que esquece o descalabro fiscal de 2014 – leia-se pacto com o diabo da gastança para ganhar eleições – esconde o que se poderia chamar de “síndrome do “day after”: o governo Temer, agora efetivado será obrigado a adotar uma política econômica contracionista, semelhante a que a própria ex-presidente tentou com o malsucedido ministro da Fazenda Joaquim Levy. Ao nomear um ministro “do mercado” esperou que uma coruja caçasse morcegos ao meio-dia. Não deu certo. Seu próprio partido barrou a iniciativa, e sem sustentação o ministro caiu.

O atual governo Temer pede que o ministro Meirelles faça o mesmo, só que ao final da tarde. Vai ser complicado. Corujas e morcegos tem outras agendas, mas se pelo menos a economia deixar de piorar já é algo para se comemorar.

A retomada do crescimento econômico, no entanto, requer entre outras condições uma perspectiva de equilíbrio nas contas do governo, hoje profundamente deficitárias. Para obter tal resultado será necessário aumentar as receitas ou reduzir as despesas, ou praticar as duas coisas ao mesmo tempo. Qualquer destas manobras exige base parlamentar firme para aprovação de medidas que demandam mais do que maioria simples no Congresso, esta também duvidosa, diga-se de passagem. Tudo indica que o jogo começará a ser jogado para valer só depois das eleições municipais de outubro.

Vitórias no Congresso – alterações na Previdência e tetos de gastos do setor público – contribuindo para o ajuste vão encurtar o prazo para a retomada do crescimento.

Outra condição importante já esta dada: a relação cambio x salários se ajustou razoavelmente. Exportadores recuperam mercados perdidos no passado recente e os custos com mão de obra se reduzem com a retração dos salários: reajustes de várias categorias abaixo da inflação, novas tecnologias e uma conjuntura de desemprego que permite uma exploração mais intensa daqueles trabalhadores que não perderam o seu, dá especialmente ao setor industrial maiores condições de competição no plano nacional (contra os importados) e internacional.

Derrotas do governo no Congresso, no entanto, farão nossa agonia durar mais tempo.