O Ensurdecedor Silêncio das Ruas
Muitos têm afirmado que a economia se descolou da política. A primeira, caracterizada por inflação abaixo do piso, desemprego em queda, o PIB saindo da toca, Bolsa de Valores ultrapassando os 75.000 pontos e o dólar bem-comportado contrasta com a segunda que naufraga na instabilidade causada pelas acusações de corrupção contra o Presidente da República e seus ministros “caseiros”. Embora ensurdecedor, o silêncio que emana das ruas dá um toque quase surrealista nos dias que vivemos e reforçaria esta ideia da separação. Acusações muito mais graves do que as lançadas contra a ex-presidente Dilma Rousseff agora (ou pelo menos até agora…) não provocam qualquer reação popular do tipo que presenciamos em 2013 ou durante o processo de “impeachment”.
Será que a inflação no rodapé do subsolo é suficiente para explicar esta apatia? Talvez contribua, mas o descolamento é enganoso. Ao contrário, estas dimensões da vida de uma nação nunca estiveram tão entrelaçadas. Do lado da economia alguns fatores externos somados à mudanças na política econômica ajudaram a (lenta) superação da recessão. Taxas de juros muito baixas no plano internacional e melhores preços dos produtos de exportação produziram superávits recordes na balança comercial e entradas robustas de investimentos estrangeiros atraídos pelas concessões.
No plano interno a contração do binômio inflação e taxa de juros – a primeira ajudada especialmente pela queda dos preços dos alimentos – somadas à liberação do FGTS inativo deram um alento ao consumo expandindo a demanda. As empresas responderam usando sua capacidade ociosa para aumentar a produção sem investir em capital fixo. A queda dos salários também contribuiu para garantir lucros e proporcionar um PIB acima de zero depois de 3 longos anos, tendência reforçada agora com a aprovação da reforma trabalhista.
Esta recuperação baseada na expansão do consumo, isto é, na demanda tem no entanto vida curta. Se os investimentos em capital fixo (inclui novas tecnologias) não saírem da toca vai ser difícil que o processo se torne sustentável. A questão é: quais as condições para que o investimento retorne de forma massiva em nossa economia? Qualquer investimento requer um prazo de maturação, o qual pode ser mais ou menos longo: três, cinco anos ou mais para que os lucros se realizem e justifiquem a decisão de investir.
É necessário, portanto, que o investidor confie no futuro e aqui surge o “claro enigma”: quem será eleito em 2018? Qualquer candidato que ameace reverter os rumos da atual (impopular) política econômica cuja espinha dorsal é o ajuste fiscal (teto dos gastos, reforma da previdência etc.) torna-se disfuncional aos olhos dos Donos do Pib. Hoje, o maior temor dos empresários é a volta de um governo populista que desmonte a atual política econômica. Apenas um nome surge com solvência cada vez maior para tornar esta ameaça uma realidade: o do ex-Presidente Lula. Tudo que contribua para inviabilizar sua candidatura, de delações premiadas de amigos íntimos, até sentenças judiciais de 2ª instancia dissolve a neblina de outubro de 2018 e oferece uma bela perspectiva para a volta dos investimentos. No entanto pairam algumas incertezas: até quando o silencio das ruas manter-se-á ensurdecedor? As reformas, mesmo desidratadas como a da Previdência serão aprovadas?
No plano internacional, outra incógnita: os insultos proferidos entre o Loiro Desvairado e o Gordinho Sinistro poderão resultar em impensável conflito nuclear empurrando o mundo para um precipício incompatível com um bom clima para os negócios?