O setor público pagou cerca de 106 bilhões de reais de juros por suas dívidas no primeiro semestre de 2008. O desembolso foi superior, descontada a inflação, ao pago em 2007. O resultado já era esperado, pois o montante da dívida cresceu e os juros incidentes sobre ela voltaram a subir. O governo alega que é necessário aumentar os juros para conter a inflação. Quebra os ovos do dragão inflacionário inibindo o consumo. Mas este não para de crescer. Os vendedores já aprenderam a embutir os juros nas prestações e alongar os prazos de pagamento.
O cliente não olha os juros e sim verifica se a prestação cabe no seu orçamento mensal” afirmam com temerária esperteza, e la nave va. O perigo é a criação de uma bolha financeira a ser estourada pela lança da inadimplência. Mas se isso ocorrer no futuro… tudo bem, pois o futuro ainda está longe. Como diria Vinicius de Moraes: que não seja eterna posto que é bolha, mas que as vendas sejam máximas enquanto dure… Em síntese, a elevação da taxa de juros não tem alcançado seu propósito e, o efeito colateral – comprometer maior receita pública para pagar juros – impede que a arrecadação crescente seja utilizada em benefício da população: melhoria dos serviços reforma da infra-estrutura e investimentos para azeitar o crescimento do PIB.
A queda do ritmo inflacionário observada nos últimos meses não se deveu ao aumento da taxa de juros. Mas sim a uma combinação de término da entre safra de grãos, queda nas cotações das commodities e redução da especulação com os preços do petróleo. Se o governo quiser conter o crédito a arma mais eficaz é o aumento do depósito compulsório. Este sim é capaz de bloquear a capacidade do setor financeiro em expandir o volume de crédito.
Na verdade, no caso brasileiro, quem segura a inflação em patamares baixos é a taxa de cambio. Mas esta começa a dar sinais de inquietação, pois o saldo da balança comercial se reduziu fortemente. Além disso, parte dos investimentos especulativos que animaram as Bolsas de Valores no primeiro semestre (e que inflavam a oferta interna de dólares) estão voltando para salvar posições comprometidas nos cambaleantes mercados financeiros do exterior.
Se o cambio prosseguir se desvalorizando, abandonando o nível confortável em que ainda se encontra, então sim assistiremos a pressões inflacionarias vigorosas. Nesse caso será inevitável uma forte elevação dos juros para derrubar o crescimento do Pib em direção a patamares inferiores a 3%.
A conjuntura internacional favorável vivida até 2006 parece estar sendo corroída por um grau elevado de incerteza. Grandes instituições financeiras beijam a lona e mesmo uma das maiores montadoras mundiais apresentou contas de um vermelho alarmante.
A obsessiva luta contra a inflação travada a partir de 2003 deixou escapar o bom momento internacional para crescer de forma mais consistente. É verdade que o PIB está se expandindo em 2008. Mas, em parte isso se deve ao forte impulso de 2007. É também certo que as eleições deste ano motivam o governo a gastar mais: a mãe do PAC não por acaso é a candidata do governo às eleições presidenciais de 2010. Penhorada, a demanda efetiva agradece. Mas talvez isso seja muito pouco para garantir a continuidade do crescimento em 2009.
Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br