O Dr. William Gorgas, médico que comandava o saneamento da área onde o Canal do Panamá estava sendo construído, foi chamado pelo coronel George W. Goethals, o todo poderoso chefe da obra. Apreensivo, pois as relações andavam meio azedas, o médico se apresentou.
O militar foi logo dizendo:
“Nem mais um centavo para matar mosquitos! Cada um que o senhor matou custou mais de 10 dólares!”
O Dr. Gorgas tremeu, mas arrancou forças deus sabe de onde para responder:
“ E saiu barato! Imagine se um desses tivesse mordido o senhor?”
O coronel resmungou algo , mas o médico continuou tendo recursos para transformar o Canal numa das áreas mais seguras do mundo.
No início do século XX não existia vacina contra a febre amarela (como hoje não existe contra a dengue que assola hoje o Rio de Janeiro). A picada era assustadoramente letal. E o mosquito não escolhia entre ricos ou pobres, brancos ou negros, americanos ou panamenhos. Apenas os enterros eram feitos em cemitérios separados.
Este episódio evoca a questão: quanto custa uma epidemia? É difícil responder, pois aos custos objetivos e atuariais das mortes (além dos hospitalares), ou dos dias não trabalhados pelos sobreviventes, devemos somar os danos subjetivos ou morais e estes deságuam no poço do insondável. Os primeiros são muito elevados; os últimos inconsoláveis.
Mas os custos de evitar uma epidemia são facilmente determináveis. E são baratinhos. Basta que as terapias sejam aplicadas continuamente e as campanhas contra o mosquito desfechadas com o mesmo empenho com que se combate a inflação. Mas ao invés disso o que vemos é uma verdadeira epidemia de custos, tão intoleráveis quanto a presença do mosquito, para dizer o mínimo. Quando um ex-ministro da República gasta mais de
R$ 1.400,00 numa diária de hotel, (no Brasil), Reitores Federais embelezam seus apartamentos com mais de R$ 500 mil e compram malas na China por mais de R$ 2.000,00 e um Governador aluga jatinho para passear com a família na Europa, além de gestos escandalosos denotam evidente desproporcionalidade na utilização de dinheiro público. No Rio de Janeiro as larvas do aedes aplaudem, assistem calmamente a um Fla x Flu pois estarão à salvo por mais uma temporada.
Atribui-se a Confúcio ter indicado as quatro formas de aprender: a repetição, o trauma, o trauma da repetição, e a repetição do trauma. Em matéria de dengue e febre amarela, nos últimos cem anos, já vivenciamos as quatro. Ao que parece, ainda não aprendemos o suficiente. Ou será que existe outra maneira que escapou ao grande sábio chinês?
Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br