Nos últimos 60 anos o Brasil teve duas fases bem distintas de crescimento econômico. Nos anos de 50, 60 e 70 o crescimento médio anual do PIB alcançou cerca de 7,0%. Nos anos 80 despencou para apenas1,5%; nos 90 para 2,3% e, na atual década, cerca de 3,0%. A razão fundamental desta queda foi o vertiginoso crescimento do endividamento, tanto externo quanto interno, experimentado a partir dos anos 80. As desvalorizações cambiais destilando inflação, e o aumento dos juros (para atrair recursos externos) desaguando em fortes recessões marcaram nossa economia nos últimos 30 anos. A renegociação da dívida externa nos moldes do Plano Brady em 1994 e o lançamento do Plano Real no mesmo ano afastaram o perigo da hiperinflação. Mais tarde a lei de Responsabilidade Fiscal contribuiu para um ajuste parcial das contas públicas. Uma conjuntura internacional econômica favorável a partir de 2002 permitiu ao Brasil expressivos superávits comerciais e as reservas aumentaram. Ao mesmo tempo políticas de melhora dos níveis de renda dos setores mais pobres ampliaram o mercado interno. Além disso, a crise internacional de 2008/09 encontrou nosso sistema financeiro com excepcional rentabilidade devido aos juros estratosféricos pagos por um cliente seguro: o governo na rolagem da dívida pública. Nenhum banco grande se afogou no torvelinho embora o Banco Central reduzisse o compulsório para permitir que os menores não quebrassem. Em 2009 a redução de tributos sobre a linha branca, automóveis e material de construção estimulou o consumo evitando uma retração maior do PIB. A crise em alguns paises europeus como a Grécia não ameaçou até agora um crescimento robusto em 2010 embora em 2009 o PIB, feito caranguejo, tenha andado para trás. Os mais otimistas estimam em 7,0% a expansão do PIB em 2010. Mas este crescimento não parece ser sustentável. A razão central reside na necessidade da rolagem da dívida pública o que exige captar no mercado cerca de 40 bilhões por mês. Isto impede que o setor privado obtenha recursos a baixo custo para investimentos. Sem estes a oferta não acerta o passo com a demanda e robustas pressões inflacionarias batem à nossa porta. Para contê-las o Bacen dispõe de duas armas: o aumento da taxa de juros Selic e/ou o aumento dos depósitos compulsórios. Ambas comprometem o crescimento no médio prazo. Não contentes ( especialmente a primeira) atraem uma enxurrada de dólares e o real se valoriza passando uma rasteira nas exportações. Os estímulos ao crescimento definham. O PIB, que nos últimos anos vem crescendo no estilo vôo de galinha, repetira a dose? È provável. Embora dessa vez a galinha se apresente mais gordinha…
Em visita ao Brasil, Aldous Huxley, admirado, dizia que o beija-flor se apoiava na própria vibração. Se comparecesse à Bolsa de Valores poderia ter a mesma ilusão. Os mercados financeiros também vibram, é certo. Mas, ao contrário dos pássaros, às vezes perdem o apoio e desmoronam sem piedade. O néctar seca e os vibrantes vôos dos investidores, que eram sólidos, se dissolvem no ar. Assustadas, as flores se fecham. O crédito some. A crise se instala tendo início o salve-se quem puder.
Na realidade, à diferença da natureza que (se o homem não atrapalhar) reencontra seu equilíbrio, os mercados necessitam forças externas para recuperar o animo. Deixados em completa liberdade tendem a crescer mais do que podem – quando se expandem – e a cair mais (e põe mais nisso…) do que devem quando descem a rampa. Especialmente se a regulamentação e a fiscalização afrouxarem, tipo: deixem os especuladores trabalhar…! Para sair da crise a terapia é (ou era) conhecida: juros reduzidos, a liquidez e investimentos públicos ampliados para gerar empregos, e impostos encolhidos. Políticas monetaristas e keynesianas, abandonam antiga rivalidade e se entrelaçam num abraço amoroso ( de afogados?). Especialistas provavelmente chamados Milton Keynes ou John Maynard Friedman tornam-se assessores de Barak Obama.
Mas algo não esta funcionando. Ou melhor, há algo novo nessa crise. É como se uma mutação no vírus que a provoca neutralizasse todas as terapias disponíveis, e o organismo continuasse piorando. Será que o crescimento da economia global foi tão acelerado nos últimos anos e agora, na queda, exija doses muito mais fortes destes remédios? Mas o que fazer se a taxa de juros já é praticamente zero (lá, einh!) ou mesmo negativa? Será necessário construir réplicas em tamanho natural das pirâmides egípcias (não as do tipo Madoff-Ponzi é claro) no deserto do Arizona para criar demanda efetiva? Há escassez de poupança ou a falta de financiamento resulta da ausência de confiança? A poupança global não teria se distribuído numa perigosa assimetria: negativa nos Estados Unidos e transbordando nos quase 2 trilhões de dólares das reservas chinesas?
Para retomar os investimentos as empresas deverão primeiro quebrar para depois num processo de destruição criativa schumpteriana se reerguer sobre novas bases como é o caso da indústria automobilística?
São interrogantes que talvez exijam mais tempo para serem respondidas. Mas se não forem, só nos restará dizer: 33!