Existem flautistas que executam seu instrumento com as narinas. É difícil, admirável até, mas o repertorio é limitado. Partituras mais complexas exigem o retorno á forma tradicional de tocar. É o caso da atual política economica. Pretendendo garantir o emprego e baixa inflação – grandes cabos eleitorais – o governo provocou um desarranjo entre quatro taxas que comandam o crescimento de qualquer economia: a de cambio, a de juros, a de salários e a de impostos. A valorização do cambio ajudou a segurar a inflação. Mas penalizou a industria. Esta perdeu mercados num momento de acirramento da concorrencia internacional. Presenciou, e presencia, quase impotente, a invasão de bens importados devorando seu mercado interno. A balança comercial fraqueja e apresenta os primeiros déficits. Os dólares que entraram saem chupados pela bomba de sucção da economia americana em recuperação.
A elevação dos salários ampliou a demanda de bens de consumo, alavancada também pela desoneração de impostos. A galera aplaudiu, mas os efeitos colaterais – custos industriais ascendentes e redução da arrecadação do governo – agravaram a situação da industria e das finanças públicas.
A queda da Selic ajudou a rolagem da dívida pública mas a ampliação do credito ameaça os índices inflacionários. Diante de incertezas não apenas economicas mas também políticas ( as ruas começam a erguer a voz) o investimento encosta na barranca à espera que o nevoeiro se dissipe. Uma quinta taxa entra em cena escorregando: a de lucro. Em queda, não há caixa de ferramentas de bondades que faça empresários levantar da cama e ir à luta.
O governo percebe que foi longe demais e começa um penoso retorno à “ortodoxia”. Tem início o desmonte das desonerações e o aumento da Selic. Mas o Pib se projeta raquítico como no ano passado. O nível de emprego começa a estolar.
Em atitude surpreendente a Presidente Dilma ameaçou (e ficou só nisso) fazer a disputa política diretamente na sociedade – coisa que nem seu antecessor ousou – buscando recuperar a iniciativa política. A guinada misturada com algumas trapalhadas ( alguém ainda se lembra do plebiscito? Nem a plebe!) agregou outro elemento de incerteza, e os investimentos aguardam melhor momento para sair da toca.
As finanças de Estados e Municipios também se deterioram com o raquitismo do PIB e seus efeitos colaterais: queda da arrecadação e dos repasses. Além disso, 2014 é ano de Copa e de eleições gerais. Quem ousará reajustar as tarifas do transporte urbano antes de 2015? A luta contra a inflação agradece, embora marchas de Prefeitos e Governadores ( todos de sobrenome Piresnamão) à Brasília serão mais frequentes e vigorosas. Mas, não encontrarão luz no fim do tunel porque o trem da União vindo em sentido contrário anda com os faróis quebrados.