Se operasse em Wall Street Arquimedes diria: “dêem-me um derivativo e uma alavancagem que eu afundarei o sistema financeiro”. A crise que nos atormenta está ancorada nestas duas palavras: derivativo e alavancagem. Estas por sua vez se originam na tendência geral do mercado financeiro de crescer mais do que os recursos reais permitem. Este mercado opera com o futuro e este entra em contradição com o presente. De que maneira? Bem, a economia está apoiada na produção de bens e serviços.
O crescimento destes é “lento” e depende do binômio investimento/consumo. Para investir os agentes contam geralmente com financiamentos, obtidos nas entranhas do monstro tentacular dos Bancos de Investimento, das Bolsas de Valores e dos instrumentos sofisticados e complexos denominados opções e derivativos. Os investidores se endividam na esperança de obter lucros futuros crescentes com a venda de produtos e serviços. Quando as taxas de juros são muito baixas, esta busca torna-se frenética. Se o financiamento é barato, não só o investimento se amplia. Seu irmão siamês, o consumo, tende a explodir.
Nos Estados Unidos, país viciado em consumo, as dívidas se multiplicam. Seus Bancos praticam uma alavancagem temerária: emprestam mais do que seria recomendável para ganhar, ganhar,… Uma bolha começa a se formar. Por que as taxas de juros baixaram tanto nos Estados Unidos entre 2000 e 2004? Bem, no final dos anos 90 diante da “exuberância irracional” do mercado acionário o então presidente do FED Alan Greenspan elevou as taxas de juros para cerca de 6%. As tendências recessivas que se seguiram levaram o FED a voltar a reduzi-las e mais ainda após os atentados de 11 de setembro. A Prime Rate oferecida aos mais solventes, tornou-se negativa, inferior à taxa de inflação. Para ganhar mais os Bancos começaram a sair à caça da turma do Subprime.
Ou seja, clientes com garantias precárias, barrados no clube da Prime Rate, mas dispostos a pagar taxas mais elevadas. Embora superiores estas taxas fossem ainda inebriantemente baixas para muitos. Mas a partir de 2004 a ameaça de inflação fez com que o FED elevasse outra vez a Prime Rate que alcançou mais de 5,0%. A Subprime saltou para o dobro. Como os contratos da turma do Subprime foram feitos a juros variáveis estes se tornaram impagáveis e a inadimplência se alastrou. Tarde demais, pois estas dívidas haviam sido espalhadas pelo mundo vestidas de opções e derivativos, circulando como “bona moneta”. Na verdade tratava-se de um perigoso vírus. A começar pelos Estados Unidos, seguradoras e Bancos hipotecários contaminados começaram a quebrar em várias partes do mundo.
Cada anúncio de socorro feito pelo governo era seguido de novas declarações de falência. As Bolsas de Valores despencaram com quedas inéditas. O uso do “circuit braker” tornou-se freqüente. Na iminência de uma crise financeira global, e do salve-se quem puder, a mão invisível de Adam Smith foi substituída pela mão visível da intervenção governamental em larga escala a um custo aproximado de três trilhões de dólares. Em meados de outubro de 2008 a crise parece ter sido contida, mas as ameaças de uma recaída ainda não foram afastadas. O “day after” anuncia uma recessão mundial das boas, forma em que a conta será apresentada ao distinto público. A pergunta que se coloca é: a crise é uma anomalia passageira do sistema e a estabilidade sua condição normal ou como já afirmavam Marx, Keynes e Minsky trata-se de sua característica fundamental?
Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br
3 comentários
Mieszkania Suwalki
10/04/2013 às 01:01 (UTC -3) Link para este comentário
I hardly create comments, but i did some searching and wound up here Crise Financeira: Derivativos e Alavancagens » Blog do Sandroni. And I do have 2 questions for you if it’s allright. Could it be just me or does it look like a few of the remarks look like they are left by brain dead visitors? 😛 And, if you are posting at other sites, I’d like to keep up with anything fresh you have to post. Could you make a list of the complete urls of your public sites like your Facebook page, twitter feed, or linkedin profile?
Paulo Sandroni
10/04/2013 às 18:05 (UTC -3) Link para este comentário
Dear Mruczek,
In my blog http://www.sandroni.com.br I have posted a lot of texts in Economics ( Brazil Economy especially) and many others about urban development. Some of them very recent ( April 2013).
I have some games and simulators some in Portuguese others in Spanish and in English.
If you have some questions please present them and I will try to answer. You can send them also to paulo.sandroni@fgv.br
Best regards
Paulo Sandroni
Paulo Sandroni
11/04/2013 às 22:24 (UTC -3) Link para este comentário
I read your comment once more about the post Derivativos etc… on my blog.
May be you refer to brain dead visitors to Marx, Keynes and Minsky? If so, I would like to say that
especially Minsky has a very good approach about the unstable caractheristics of modern capitalist economies explaining why the financial market brings so much trouble to these economies.
In terms of substantive remarks have you some thing to point out?
I am in facebook but ususally do not make comments there. I prefer to use my blog.
Best Regards
Paulo Sandroni