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jan 12 2012

A Crise na Europa e reflexos no Brasil

Cenário: julho de 1944, Bretton Woods, New Hampshire, Estados Unidos.  Alemanha e  Japão praticamente derrotados na II Guerra Mundial,  os Aliados se reuniram nesta aprazível localidade  para reorganizar o sistema monetário e financeiro internacional. Uma das preocupações de John Maynard Keynes, presidente da Conferência  era evitar que a crise de 1929 se repetisse. Propôs a formação de uma “Clearing Union”, isto é uma espécie de Câmara de Compensação para os pagamentos internacionais. Operaria com uma moeda, (o Bankor) ,  independente de qualquer governo para evitar abusos.  Embora complexo, o sistema era engenhoso e por meio de incentivos e castigos procurava evitar os déficits crônicos de um lado – que resultavam em dívidas impagáveis – e superávits perpétuos de outro, que conduziam inevitavelmente ao desequilíbrio e à crise.

Os americanos não aceitaram a proposta e impuseram o dólar como meio de pagamento internacional. Gozaram das delícias dos ganhos de senhoriagem, mas o endividamento descomunal  resultante desaguou no abandono do sistema em 1971. O dólar sofreu forte desvalorização provocando uma crise em todo o mundo.

Hoje os déficits crônicos se esparramam e as dívidas crescem como cogumelos na floresta: pessoas, empresas e governos compraram coisas pelas quais não podiam pagar. Quando não honram suas dívidas, as empresas literalmente quebram.  As vezes não convém que desapareçam e os governos concordam em resgatá-las do inferno. Mas, é necessário pactuar com o diabo aumentando suas já pesadas dívidas. Este poder de salvamento, no entanto, tem um limite. Uma vez ultrapassado  coloca o dilema: quem salva um governo atolado em dívidas e com déficits crescentes? A área do Euro, é a mais duramente atingida. Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália ou beijaram a lona ou cambaleiam.  França e Alemanha ainda de pé impõem novas regras de austeridade para evitar que a pororoca se transforme em tsunami. A terapia é conhecida: corte nas despesas, queda dos investimentos, aumento do desemprego e dos impostos. Mas, estas medidas são recessivas. Agravam a crise fiscal e a recessão pode durar mais tempo do que o necessário. As condições sociais e políticas se deterioram. O ranger de dentes pode  transformar protestos em revoltas populares. Na Europa dois subprodutos nefastos ganham força: xenofobia  (os poucos empregos para os nacionais) e regimes políticos pouco inclinados às consultas populares, isto é, autoritários para segurar o carneiro quando a tosquia ultrapassa a pele e chega até os ossos.

Os reflexos no Brasil já se fazem sentir: aumento da inadimplência,  queda nos investimentos e um crescimento em 2011 inferior a 3%. Em 2012 o PIB pode ser ainda menor, tornando evidente que a expansão de 7,5% em 2010 não era sustentável.

3 comentários

  1. Paulo Sandroni

    Querido Cris,

    A crise economica pode ser medida e avaliada com dados objetivos. Assim como um
    engenheiro calcula a resistencia dos materiais e quanto uma coluna pode aguentar de peso
    os economistas também tratam de elementos objetivos e concretos como quantas pessoas
    estão desempregadas, o nível de atividade economia etc. Assim como um engenheiro não pode
    ser enganado pela aparencia de uma ponte – se ela esta bem iluminada ou pintada – pois é
    necessario verificar se a ferrugem interna ( escondida pela pintura) não esta solapando sua
    resistencia e pode determinar sua queda, um economista mede a porcentagem de desempregados
    por exemplo, para verificar a situação de uma economia. No caso espanhol, embora os restaurantes
    possam estar cheios o desemprego alcançou a marca recorde de 25% ( na crise de 1929 nos
    Estados Unidos alcançou cerca de 38%) e é bom não esquecer que a Espanha´é um dos paises
    que mais recebe turistas. Vai ver que metade dessa galera eram turistas brasileiros… Mas, se voce olhar
    por outro prisma, considere que 75% estão empregados e portanto com renda para gastar consumindo
    paellas, e do que conheço dos espanhóis a última coisa a renunciar é um vinho tinto nas refeições.Outro sintoma
    da crise na Espanha é que os Bancos precisaram ser socorridos pois ameaçam quebrar – pelos
    emprestimos irresponsáveis que concederam – ( lá também tivemos uma crise das hipotecas). E ocorre
    aqui um circulo vicioso, pois os desempregados – salário zero – não tem como pagar suas hipotecas e o
    numero de moradias vazias ( nas mãos dos bancos e sem comprador) é um dos maiores do mundo. Isto
    provoca uma situação muito curiosa é a visão da vaca mamando no bezerro: o Santander por exemplo
    vai mal na Espanha mas é capitalizado pelos recursos que a filial do Brasil que esta muito bem, lhe envia…

    Bem, contuamos discutindo,

    Abração do

    Paulo

    Outra coisa que devemos considerar é que hoje com o aprendizado do que ocorreu depois de 1929 a
    intervenção estatal na economia – que antes de 1929 era inadmissível – é aceita como uma forma de evitar
    que a crise se aprofunde e lance todo mundo na miséria. Nos anos seguintes à crise de 1929 muitos moradores
    de manhattan que perderam tudo montaram barracos numa verdadeira favela no Central Park denominada de
    Hooverville em “homenagem” ao presidente Hoover que foi o presidente dos Estados Unidos entre 1928/1932.
    Creio que hoje com a globalização e todos os mercados interligados, a crise que nasce numa economia ( Hipotecas
    sub-prime nos Estados Unidos) e portanto endogena, provoca crise no mundo inteiro e mesmo paises com economia
    razoavelmente solida, sofrem com esta “crise exógena”.

  2. Milson José

    Faço o questionamento, SERÁ QUE A CRISE NA EUROPA NÃO DENOTA QUE O PESO FISCAL NO PAIS (BRASIL) É UMA FORMA DE EVITAR O MESMO FIM DA EUROPA? outro é ESQUECENDO ALGUNS TOPICOS POLITICOS , SERÁ QUE O ORIENTE MÉDIO E AFRICA NÃO SERIAM UMA VALVULA PARA A BALANÇA COMERCIAL?,pois vejo que o poder de expotação da Europa tende a diminuir e mesmo o Brsil importando para Europa algumas medidas fiscais dos países em crise vão “bater” nas importações.

    sds MILSON JOSÉ

    1. Paulo Sandroni

      Estimado Milson José,

      Nossa vantagem é que a crise de 2008 não afetou nosso sistema financeiro nem o governo teve que aumentar seu endividaemnto para salvar empresas em quebra. A solidez dos Bancos brasileiros e seu relativamente pequeno grau de alavancagem deve-se fundamentalmente a que emprestam ao governo ( cliente que não apresenta risco) a taxas de juros muito elevadas. No caso da carga tributária não vejo como reduzí-la no curto prazo,pois o pagamento dos juros da nossa dívida pública representa uma enorme despesa devido à taxa paga pelo governo ( Essa mesma taxa que dá solidez aos Bancos…)
      Não creio que o Oriente Médio e a Africa sejam alternativas para evitar a queda de nossas exportações no curto prazo.

      Sds. P. Sandroni

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