Cenário: julho de 1944, Bretton Woods, New Hampshire, Estados Unidos. Alemanha e Japão praticamente derrotados na II Guerra Mundial, os Aliados se reuniram nesta aprazível localidade para reorganizar o sistema monetário e financeiro internacional. Uma das preocupações de John Maynard Keynes, presidente da Conferência era evitar que a crise de 1929 se repetisse. Propôs a formação de uma “Clearing Union”, isto é uma espécie de Câmara de Compensação para os pagamentos internacionais. Operaria com uma moeda, (o Bankor) , independente de qualquer governo para evitar abusos. Embora complexo, o sistema era engenhoso e por meio de incentivos e castigos procurava evitar os déficits crônicos de um lado – que resultavam em dívidas impagáveis – e superávits perpétuos de outro, que conduziam inevitavelmente ao desequilíbrio e à crise.
Os americanos não aceitaram a proposta e impuseram o dólar como meio de pagamento internacional. Gozaram das delícias dos ganhos de senhoriagem, mas o endividamento descomunal resultante desaguou no abandono do sistema em 1971. O dólar sofreu forte desvalorização provocando uma crise em todo o mundo.
Hoje os déficits crônicos se esparramam e as dívidas crescem como cogumelos na floresta: pessoas, empresas e governos compraram coisas pelas quais não podiam pagar. Quando não honram suas dívidas, as empresas literalmente quebram. As vezes não convém que desapareçam e os governos concordam em resgatá-las do inferno. Mas, é necessário pactuar com o diabo aumentando suas já pesadas dívidas. Este poder de salvamento, no entanto, tem um limite. Uma vez ultrapassado coloca o dilema: quem salva um governo atolado em dívidas e com déficits crescentes? A área do Euro, é a mais duramente atingida. Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália ou beijaram a lona ou cambaleiam. França e Alemanha ainda de pé impõem novas regras de austeridade para evitar que a pororoca se transforme em tsunami. A terapia é conhecida: corte nas despesas, queda dos investimentos, aumento do desemprego e dos impostos. Mas, estas medidas são recessivas. Agravam a crise fiscal e a recessão pode durar mais tempo do que o necessário. As condições sociais e políticas se deterioram. O ranger de dentes pode transformar protestos em revoltas populares. Na Europa dois subprodutos nefastos ganham força: xenofobia (os poucos empregos para os nacionais) e regimes políticos pouco inclinados às consultas populares, isto é, autoritários para segurar o carneiro quando a tosquia ultrapassa a pele e chega até os ossos.
Os reflexos no Brasil já se fazem sentir: aumento da inadimplência, queda nos investimentos e um crescimento em 2011 inferior a 3%. Em 2012 o PIB pode ser ainda menor, tornando evidente que a expansão de 7,5% em 2010 não era sustentável.
3 comentários
Paulo Sandroni
29/06/2012 às 16:23 (UTC -3) Link para este comentário
Querido Cris,
A crise economica pode ser medida e avaliada com dados objetivos. Assim como um
engenheiro calcula a resistencia dos materiais e quanto uma coluna pode aguentar de peso
os economistas também tratam de elementos objetivos e concretos como quantas pessoas
estão desempregadas, o nível de atividade economia etc. Assim como um engenheiro não pode
ser enganado pela aparencia de uma ponte – se ela esta bem iluminada ou pintada – pois é
necessario verificar se a ferrugem interna ( escondida pela pintura) não esta solapando sua
resistencia e pode determinar sua queda, um economista mede a porcentagem de desempregados
por exemplo, para verificar a situação de uma economia. No caso espanhol, embora os restaurantes
possam estar cheios o desemprego alcançou a marca recorde de 25% ( na crise de 1929 nos
Estados Unidos alcançou cerca de 38%) e é bom não esquecer que a Espanha´é um dos paises
que mais recebe turistas. Vai ver que metade dessa galera eram turistas brasileiros… Mas, se voce olhar
por outro prisma, considere que 75% estão empregados e portanto com renda para gastar consumindo
paellas, e do que conheço dos espanhóis a última coisa a renunciar é um vinho tinto nas refeições.Outro sintoma
da crise na Espanha é que os Bancos precisaram ser socorridos pois ameaçam quebrar – pelos
emprestimos irresponsáveis que concederam – ( lá também tivemos uma crise das hipotecas). E ocorre
aqui um circulo vicioso, pois os desempregados – salário zero – não tem como pagar suas hipotecas e o
numero de moradias vazias ( nas mãos dos bancos e sem comprador) é um dos maiores do mundo. Isto
provoca uma situação muito curiosa é a visão da vaca mamando no bezerro: o Santander por exemplo
vai mal na Espanha mas é capitalizado pelos recursos que a filial do Brasil que esta muito bem, lhe envia…
Bem, contuamos discutindo,
Abração do
Paulo
Outra coisa que devemos considerar é que hoje com o aprendizado do que ocorreu depois de 1929 a
intervenção estatal na economia – que antes de 1929 era inadmissível – é aceita como uma forma de evitar
que a crise se aprofunde e lance todo mundo na miséria. Nos anos seguintes à crise de 1929 muitos moradores
de manhattan que perderam tudo montaram barracos numa verdadeira favela no Central Park denominada de
Hooverville em “homenagem” ao presidente Hoover que foi o presidente dos Estados Unidos entre 1928/1932.
Creio que hoje com a globalização e todos os mercados interligados, a crise que nasce numa economia ( Hipotecas
sub-prime nos Estados Unidos) e portanto endogena, provoca crise no mundo inteiro e mesmo paises com economia
razoavelmente solida, sofrem com esta “crise exógena”.
Milson José
01/03/2012 às 12:40 (UTC -3) Link para este comentário
Faço o questionamento, SERÁ QUE A CRISE NA EUROPA NÃO DENOTA QUE O PESO FISCAL NO PAIS (BRASIL) É UMA FORMA DE EVITAR O MESMO FIM DA EUROPA? outro é ESQUECENDO ALGUNS TOPICOS POLITICOS , SERÁ QUE O ORIENTE MÉDIO E AFRICA NÃO SERIAM UMA VALVULA PARA A BALANÇA COMERCIAL?,pois vejo que o poder de expotação da Europa tende a diminuir e mesmo o Brsil importando para Europa algumas medidas fiscais dos países em crise vão “bater” nas importações.
sds MILSON JOSÉ
Paulo Sandroni
04/03/2012 às 23:51 (UTC -3) Link para este comentário
Estimado Milson José,
Nossa vantagem é que a crise de 2008 não afetou nosso sistema financeiro nem o governo teve que aumentar seu endividaemnto para salvar empresas em quebra. A solidez dos Bancos brasileiros e seu relativamente pequeno grau de alavancagem deve-se fundamentalmente a que emprestam ao governo ( cliente que não apresenta risco) a taxas de juros muito elevadas. No caso da carga tributária não vejo como reduzí-la no curto prazo,pois o pagamento dos juros da nossa dívida pública representa uma enorme despesa devido à taxa paga pelo governo ( Essa mesma taxa que dá solidez aos Bancos…)
Não creio que o Oriente Médio e a Africa sejam alternativas para evitar a queda de nossas exportações no curto prazo.
Sds. P. Sandroni