Três impactos dos anos 70/80 marcaram profundamente nossa economia. a) a desvalorização do dólar em 1971 e a crise financeira decorrente; b) o barateamento nos transportes e nas comunicações facilitando o deslocamento de pessoas, mercadorias e a transmissão de informações e, c) a reintegração do mundo em um só sistema economico “de mercado” com a dissolução das economias centralmente planejadas.
Estas três “revoluções”, se desdobraram no
a) aumento da incerteza e vertiginosa expansão dos movimentos financeiros especulativos;
b) no acirramento da concorrência internacional e rápida disseminação global de qualquer crise regional, e
c) na volta à globalização com o retorno da Rússia, da China e de todo o leste europeu como “players” no mercado mundial.
O fim das economias socialistas permitiu, nas economias capitalistas, um abandono mais rápido das políticas previdenciarias e de bem estar e uma vitória do conceito de Estado mínimo.
O vizinho socialista onde a economia funcionava mal, mas o emprego, a saúde e a educação marchavam razoavelmente bem deixara de existir como ponto de referência a ser compensado.
O Brasil foi pego no contra-pé nessa maré, e nossos governos não souberam enfrentar adequadamente a nova situação estratégica . A indústria sobreviveu ( ao contrário da Argentina p.ex.) mas herdamos pesadas dívidas xipófogas: a externa e a interna. Pagamos tributo aos credores – tupiniquins e tupinambás – o que reduz a velocidade de nosso crescimento. E as oportunidades de superação?
Existem, e não são poucas. Se os Estados Unidos e o Japão, e alguns paises da União Européia retomarem seu crescimento, mesmo modestamente, somados ao da China, o preço das commodities deverá manter-se num patamar favorável. Hoje somos campeões na exportação de várias delas e temos território e outras condições ecológicas para manter-nos no topo desta pirâmide.
Um razoável trato na infraestrutura de transportes terrestres ( saída rentável para o pacífico ajudaria muito) e um banho de loja em alguns portos e armazéns nos daria uma vantagem competitiva nos mercados asiáticos que poderá durar décadas. Um mega saldo comercial garantiria nossa solvência externa.
Uma atenção especial com a educação e o desenvolvimento tecnologico não faria mal à ninguém. No plano interno, a disciplina fiscal – com tropeços- começa a dar seus primeiros resultados embora isso tenha custado uma pressão tributária que lembra os tempos tristes da derrama. Estas dívidas pesadas exigirão uma saída lenta, dolorosa e perigosa: é como esvaziar uma bolha de sabão sem estourá-la.
A caminhada será longa. O excesso de cautela do governo no ambito da política economica talvez o exima de cometer grandes erros. Mas também poderá levá-lo a não aproveitar as oportunidades de superação das dificuldades.
Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br