Previsões econômicas e meteorológicas, no passado, tinham algo em comum: ambas eram alvo de chacotas ou ácidas ironias, pois raramente acertavam. De uns tempos para cá as meteorológicas melhoraram bastante. As econômicas deixam cada vez mais a desejar.
Há uma diferença crucial entre os dois campos do conhecimento: as mutações na natureza – exceto as microbianas – são lentíssimas; na economia podem ocorrer com a velocidade da luz pois estão sujeitas à teclas de computador e alguma coisa que se poderia chamar de vontade. Especialmente a vontade de esconder e de ocultar. Ou de enganar.
Não é porque Kepler descobriu as leis do movimento dos planetas que o Criador teria exclamado: “Ah! Este espertinho matou a charada. Vamos agora colocar a Terra girando entre Marte e Júpiter!”.
Na economia, no entanto, onde o ganhar ou perder depende em grande medida da arte de iludir, as previsões podem falhar e gerar grandes crises. As organizações esperam até o último minuto para revelar suas falcatruas. O que se pensava sólido transforma-se num pântano que devora as mais realistas ilusões.
Foi o que aconteceu em março de 2008 com o Bear Sterns quinto maior conglomerado financeiro dos Estados Unidos arrematado pelo JP Morgan por um pires de lentilhas com a benção da Reserva Federal.
Robert Shiller, economista norte-americano diz que se o preço de um título financeiro incorporar toda a informação necessária, as oscilações de suas cotações serão mínimas.
E as crises financeiras idem, idem. O problema reside em definir “toda a informação necessária”, pois ninguém sabe quais são seus limites. Além disso, é preciso avaliar se a informação é verdadeira ou não. Melhor, se não foi divulgada para enganar ou induzir o interlocutor a erro.
Dispositivos como a lei Sarbanes-Oxley (voltada para coibir irregularidades ou fraudes contábeis) e instrumentos como o Balanced Score Card (destinados a produzir indicadores mais consistentes) ajudam a dar mais transparência aos negócios mas são claramente insuficientes.
Será que o trauma de uma nova crise internacional levará as autoridades monetárias
(especialmente dos Estados Unidos) a começar a zelar pela qualidade dos títulos emitidos no mercado para coibir práticas de alavancagem financeira, que embora legais, como as hipotecas subprime, empurram o mundo para o limiar de um abismo?
Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br
1 comentário
paulo sandroni
09/10/2011 às 12:09 (UTC -3) Link para este comentário
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