abr 28 2008

Paradoxo de Gibson

Comportamento contraditório entre preços, taxas de juros e emissão de moeda verificado por Gibson no início do século XX. Gibson procurou verificar se o crescimento da oferta de moeda provocaria um aumento dos preços e uma queda das taxas de juros. Examinando a evolução dos preços durante o século XIX, ele esperava encontrar uma relação inversa entre os índices de preços e as taxas de juros, isto é, quando os preços estivessem em elevação (pelo aumento da emissão de moeda), as taxas de juros deveriam apresentar uma tendência descendente e vice-versa.

No entanto, ele encontrou um resultado diferente do esperado: aparentemente, o aumento na oferta monetária provocava ao mesmo tempo uma elevação dos preços e um aumento da taxa de juros. O comportamento dessas variáveis parecia paradoxal, pois a oferta em expansão de moeda deveria provocar uma queda nas taxas de juros. Gibson procurou explicar o fenômeno utilizando-se do conceito das expectativas do público sobre o comportamento futuro dos preços.

A experiência de preços em elevação numa determinada conjuntura pode levar o público a expectativas inflacionárias crescentes e, portanto, de taxas nominais de juros mais elevadas. Mesmo que a maior oferta de moeda resultar numa queda temporária nas taxas de juros, aqueles que emprestaram dinheiro vão perceber que perderão se emprestarem a taxas nominais de juros mais baixas.

Portanto, a oferta de crédito somente se dará a taxas de juros mais elevadas, que possam compensar essas expectativas do público de preços em elevação. No início dos anos 80, Paul Volcker, secretário do Tesouro dos Estados Unidos, baseou-se nessas concepções de Gibson, isto é, recomendando a contração da oferta monetária, para reduzir as elevadas taxas de juros que vigoraram durante a década passada naquele país em particular e no mundo em geral.

Dicionário de Economia do Século XXI.

mar 28 2008

Grande Depressão

Período da maior crise econômica mundial, entre os anos de 1929 e 1933. ­ Atingiu, em primeiro lugar e mais profundamente, a economia norte-americana, espalhando-se em seguida para a Europa e os países da África, Ásia e América Latina. A crise iniciou-se no âmbito do sistema financeiro na chamada Quinta-Feira Negra (24/10/1929), que a história registra como sendo o primeiro dia de pânico na Bolsa de Nova York. Era um momento de intensa espe­culação na Bolsa, e a economia norte-americana estava em plena prosperidade. De repente, 70 milhões de títulos foram jogados no mercado sem encontrar uma contrapartida da demanda.

A desconfiança com os acontecimentos da Bolsa espalhou-se para outros ramos da atividade econômica, atingindo a produção. A queda da renda nacional levou a uma retração na demanda, ao aumento dos estoques e à vertiginosa queda dos preços. Muitas atividades econômicas foram se paralisando, e, como uma bola de neve, sucederam-se as falências e milhões de trabalhadores ficaram desempregados. Nos Estados Unidos, entre 1929 e 1933, havia cerca de 15 milhões de desempregados, 5 mil bancos paralisaram suas atividades, 85 mil empresas faliram, as produções industrial e agrícola reduziram-se à metade. Quando a crise atingiu proporções internacionais, o comércio mundial ficou reduzido a um terço, e o número de desempregados chegou a cerca de 30 milhões. Na Europa, os primeiros países atingidos foram a Inglaterra, a Alemanha e a Áustria. Na França, faliram a Citroën, o Banco Nacional do Comércio e a Companhia Geral de Transportes.

No Brasil, o principal efeito da crise manifestou-se na queda vertical dos preços do café, levando o governo federal a comprar grande parte das safras e a destruir 80 milhões de sacas do produto, para diminuir os estoques e sustentar o preço. Essa destruição de bens – algodão nos Estados Unidos, trigo no Canadá – ocorreu em outras economias capitalistas. A elevação das tarifas alfandegárias por muitos países reduziu o nível do comércio internacional, agravando a crise. O padrão-ouro foi sendo abandonado: em 1935, apenas Bélgica, França, Holanda, Polônia e Suíça o mantinham. A depressão trouxe também conseqüências na estrutura da sociedade, particularmente nas relações do Estado com o processo produtivo.

Em todas as grandes economias capitalistas, coube ao Estado instituir mecanismos para controlar a crise e reativar a produção. Ocorria assim o abandono dos princípios do liberalismo econômico, que entregava aos próprios mecanismos de mercado a função de saneamento dos desequilíbrios que porventura surgissem nas atividades econômicas. Esse tipo de procedimento esteve presente por muito tempo na administração do presidente norte-americano Hoover, na época à frente do governo dos Estados Unidos. Somente em 1933, quando o democrata Franklin Delano Roosevelt assumiu o governo, é que se aplicou de forma contundente a intervenção do Estado na economia, para a superação da crise, por meio da aplicação do New Deal.

A crise não chegou a afetar a União Soviética, que pouco antes acabara de entrar na fase da planificação econômica centralizada, pois ela se encontrava relativamente isolada do resto do ­ mundo, no campo econômico. A falência da política econômica liberal aplicada até então fortaleceu as concepções estatizantes e intervencionistas na economia.

Veja também: Ciclo Econômico; Crise Econômica; New Deal; Recessão; Sexta-Feira Negra.

Dicionário de Economia do Século XXI.

fev 28 2008

Ciclo de Crescimento de Goodwin

Modelo de crescimento econômico desenvolvido por Richard Goodwin, baseado no modelo Predador-Presa¬, de Lotka-Volterra. Esse ciclo de crescimento seria uma transposição para a economia do processo de equilíbrio entre um predador (lince) e sua presa (lebre). Se o número de predadores aumenta (cresci¬mento da espécie), o de presas diminui e, em determinado ponto o crescimento inicial termina dando lugar a uma redução do número de linces (o crescimento diminui), o que permite que o número de lebres aumente, permitindo o reinício do crescimento do número de linces, e assim sucessivamente.

No ciclo de crescimento de Goodwin, existem duas classes antagônicas os trabalhadores e os capitalistas. Contudo, ao contrário do enfoque marxista da exploração dos primeiros pelos segundos, são os trabalhadores que representam o predador.

As exigências salariais atendidas numa conjuntura de crescimento econômico aumentariam a participação dos trabalhadores na renda nacional, reduzindo o estímulo ao inves¬timento e, portanto, a renda nacional com a conseqüente queda nos salários. A concepção de ciclo de crescimento de Goodwin talvez seja muito regular para refletir com precisão os movimentos empíricos das economias concretas.

Veja também: Lotka, Alfred; Modelo Predador-Presa; Volterra, Vito.

Dicionário de Economia do Século XXI.

jan 28 2008

Kriegspiel

Termo em alemão que significa “Jogo de Guerra” desenvolvido pelo Barão von Reisswitz’s um funcionário civil interessado em assuntos militares e utilizado por oficiais do exército prussiano durante as guerras napoleônicas como simulações de estratégia militar.

Inicialmente o jogo consistia basicamente numa partida de xadrez com dois tabuleiros e os jogadores não possuíam uma visão imediata das peças do adversário, e suas posições tinham de ser deduzidas. Havia um mediador que se encarregava de consolidar — num terceiro tabuleiro — e arbitrar as jogadas declarando se eram possíveis ou não, o que tornava o jogo de certa forma demorado e complicado.

Von Reisswitz desenvolveu então um outro tipo de plataforma abandonando o modelo original de um tabuleiro de xadrez e suas respectivas peças e construiu um ambiente que reproduzia de certa maneira o terreno onde as batalhas se desenvolviam na época: colinas, vales, rios, bosques etc. As peças representando os soldados deveriam ser colocadas no terreno irregular ocupando apenas o espaço que ocupariam numa batalha real. A escala utilizada por von Reisswitz era aproximadamente de 1: 2373 e os tempos de deslocamento de tropas e alcance dos canhões também calculados de acordo com o que acontecia na realidade: as distâncias em escala e o tempo em tempo real.

Outros problemas, no entanto, próprios de uma batalha eram de difícil solução: a batalha real é um jogo simultâneo, mas no Kriegspiel ele teria que ser seqüencial, ou pelo menos não contínuo. Para compatibilizar os movimentos von Reisswitz introduziu, como no Kriegspiel anterior, um mediador – uma espécie de juiz – que recebia as jogadas por escrito de cada um, as realizava no tabuleiro e declarava os resultados de quem havia levado vantagem na jogada ou perdido posições e soldados. Desta forma mais realista o jogo simulava relativamente bem o que acontecia nos campos de batalha no início do século XIX.

O rei Frederico Guilherme III da Prússia soube do jogo elaborado por von Reisswitz e o convidou para uma demonstração em seu castelo. O rei tornou-se um adepto do jogo e mais tarde reconheceu que alguns aspectos da atividade simulada o tinham ajudado no desenvolvimento de batalhas reais. Os tabuleiros e peças originais de von Reisswitz podem ser encontradas no Computerspiele Museum em Berlim.

Veja também Jogos de Estratégia;Teoria dos Jogos.

Dicionário de Economia do Século XXI.

ago 01 2007

Investimento just-in-time

A trajetória do PIB brasileiro tem sido comparada ao vôo de uma galinha. Ave que, dizem, é o cruzamento da águia com o Saci-Pererê: embora tenha asas seu vôo é rastejante, mas às vezes dá uns pulinhos como o Saci. Nos últimos anos, só 2000 e 2004 superaram os 4%. Nos demais, o crescimento do PIB perdeu até para o aumento da população.

A razão básica: o baixo índice de investimentos tanto públicos como privados. Essa inapetência por investir deveu-se, em boa medida, aos desequilíbrios nas contas do governo e no balanço de pagamentos e as respectivas incertezas geradas. Os déficits sucessivos do setor público desembocaram em enorme dívida que obrigou a manutenção de uma taxa de juros generosa para remunerar bem credores cada vez mais desconfiados.

Ao mesmo tempo, o desequilíbrio do setor externo, atiçado pelos déficits comerciais, ampliava nossa dívida externa: a dependência dos bancos internacionais aumentava na mesma proporção da desconfiança de que não seríamos capazes de pagá-la. O risco país disparou e nossas contas externas só começaram a melhorar quando, a partir de 2003, os superávits comerciais inflaram e seguiram expandindo, mesmo com a valorização do real.

Bons preços das commodities e o aumento da produtividade no setor agro-exportador permitiram esse surpreendente resultado. E o dólar barato, embora tenha desestimulado algumas exportações, tornou baratas as importações de máquinas e equipamentos aumentando a produtividade, reduzindo custos e neutralizando, pelo menos em parte, a competitividade perdida pela valorização do câmbio.

Agora, com a taxa de juros caindo num ritmo mais rápido, o consumo de bens duráveis começou a sair da toca. A redução da massa de juros paga pelo governo abre espaço no orçamento e os investimentos do setor público começam a surgir na linha do horizonte empurrados pelo PAC. O nevoeiro macroeconômico que atrapalhava a decolagem do PIB desmancha no ar, embora nuvens negras se acumulem no horizonte do mercado financeiro internacional.

Mas, tantos anos de desleixo com a infra-estrutura e descaso com a capacidade de gestão podem atrapalhar. E muito. Estradas e aeroportos dão sinais de fadiga e desorientação. As filas de caminhões esperando para descarregar nos portos e o caos no tráfego aéreo tem uma significação sintomática. As asas da galinha cresceram, mas ela engordou. As condições macroeconômicas tornam-se mais favoráveis; contudo, as microeconômicas parecem anunciar graves complicações.

O investimento just-in-time se impõe em sua dimensão concreta: onde, como, quanto e em quê? Ou melhor, o investimento na hora certa, no lugar certo, na proporção certa e na atividade certa. Será possível? Ou deveremos esperar mais um par de anos para que o macro e o micro acertem o passo?

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br

maio 28 2007

Paradoxo de Allais

A origem do paradoxo de Allais está na crítica que este autor desenvolveu ao livro Theory of Games and Economic Behaviour (Teoria dos Jogos e Comportamento Economico), 1944, de  John Von Neumann e Oskar Morgenstern. Em 1936, tentando definir uma estratégia razoável para um jogo repetitivo com uma expectativa matemática positiva, Allais verificou a existência da preferência por segurança na vizinhança da certeza demonstrada por todos aqueles que se submetiam à prova, especialmente quando se colocavam em jogo grandes somas em dinheiro, isto é, somas muito elevadas em relação à renda das pessoas consultadas.

Essa constatação levou Allais a formular um teste, em 1952, que se tornou conhecido como Paradoxo de Allais. O teste consiste em duas perguntas:

1) Você prefere a situação A ou a situação B?

Situação A: certeza de ganhar 100 milhões de francos;

Situação B: 10% de probabilidade de ganhar 500 milhões de francos; 89% de probabilidade de ganhar 100 milhões de francos; 1% de probabilidade de não ganhar nada.

2) Você prefere a situação C ou a situação D?

Situação C: 11% de probabilidade de ganhar 100 milhões de francos; 89% de probabilidade de não ganhar nada.

Situação D: 10% de probabilidade de ganhar 500 milhões de francos; 90% de probabilidade de não ganhar nada. Allais mostra que de acordo com as formulações neobernoullianas (de Von Neumann e Morgenstern), a preferência da situação A sobre a B, isto é, se A > B, significaria a preferência da situação C sobre a D, isto é, que C > D.

No entanto, Allais observou que mesmo pessoas muito cuidadosas, acostumadas ao cálculo de probabilidade e consideradas racionais (embora com rendas relativamente pequenas se comparadas com os ganhos do exemplo anterior), preferiam A a B, mas ao mesmo tempo preferiam D a C.

Uma vez que os neobernoullianos consideram evidentes os axiomas dos quais eles deduzem formulações (neobernoul­lianas), reputam esse resultado, isto é, o experimento de Allais, um paradoxo. Veja também Allais, Maurice; Teoria dos Jogos.

Veja especialmente o artigo “O Paradoxo de Allais e a Selic” na seção de Artigos.

Dicionário de Economia do Século XXI.

abr 28 2007

Ponzi Games

O termo tem dois significados correlacionados.

A palavra “Ponzi” é o sobrenome de um estelionatário ítalo-americano (Carlo Ponzi) que desenvolveu um tipo de golpe que prometia aos investidores dobrar o capital investido em noventa dias, tirando proveito das oportunidades de arbitragem no mercado internacional de títulos (cupons) postais.

Ponzi foi preso em 1920, passou três anos e meio na prisão e sua empresa foi declarada insolvente em 1931. Charles Ponzi morreu em 1949 no Brasil.

Do ponto de vista econômico, o esquema adotado por Ponzi, ou um Ponzi game, refere-se a uma situação na qual um devedor executa uma rolagem perpétua de sua dívida, cobrindo os juros e o principal de sua dívida passada com mais dívida no presente. Ou melhor, os encargos da dívida existente são pagos com a ampliação da própria dívida.

Num esquema do tipo Ponzi, devemos destacar, em primeiro lugar, que o endividamento não tem como garantia ativos reais, mas simplesmente dívida futura (ou capacidade de endividamento futuro), e, em segundo, que o mecanismo torna-se possível desde que o fluxo de transações financeiras no mercado tenha sempre um valor presente positivo para o devedor, isto é, que o valor do empréstimo inicial dos credores ao devedor não seja suplantado em valor presente pelos pagamentos deste último aos primeiros. No Brasil, durante os anos 50 esse golpe foi aplicado com a seguinte estruturação: um certo capitão da reserva da Aeronautica de nome Felipe – daí o nome de felipeta(*) para as promissórias assinadas por ele como sinônimos de títulos micados, isto é, sem valor- adquiria automóveis a prazo e vendia à vista com grande desconto; em determinado momento, tão mais próximo quanto maior fosse o desconto dado e menor o número de “clientes”, ele não seria capaz de pagar as prestações com o dinheiro arrecadado pelas vendas à vista, e teria de declarar-se insolvente.

Durante os anos 80, o endividamento externo brasileiro também teve uma trajetória parecida com um Ponzi Game, na medida em que se tentou perpetuar o mecanismo de pagar os encargos do estoque da dívida externa aumentando este estoque com endividamento adicional.

No momento em que os credores internacionais, temerosos dos eventuais efeitos em cadeia da moratória mexicana (1982), reduziram seus empréstimos para a continuação da rolagem da dívida externa brasileira, o sistema entrou em crise e somente em 1994 estabeleceu-se um novo acordo para o pagamento de nossa dívida externa. Veja também Calote; Efeito Ponzi; Mico; Moratória; Plano Brady.

(*) – A letra da música Samba Erudito de Paulo Vanzolini diz a certa altura “… lancei felipetas prá lhe dar um Cadillac…”

Dicionário de Economia do Século XXI.

abr 17 2007

Ponzi Games

Dicionário de Economia do Século XXI.

O termo tem dois significados correlacionados.

A palavra “Ponzi” é o sobrenome de um estelionatário ítalo-americano (Carlo Ponzi) que desenvolveu um tipo de golpe que prometia aos investidores dobrar o capital investido em noventa dias, tirando proveito das oportunidades de arbitragem no mercado internacional de títulos (cupons) postais.

Ponzi foi preso em 1920, passou três anos e meio na prisão e sua empresa foi declarada insolvente em 1931. Charles Ponzi morreu em 1949 no Brasil.

Do ponto de vista econômico, o esquema adotado por Ponzi, ou um Ponzi game, refere-se a uma situação na qual um devedor executa uma rolagem perpétua de sua dívida, cobrindo os juros e o principal de sua dívida passada com mais dívida no presente. Ou melhor, os encargos da dívida existente são pagos com a ampliação da própria dívida.

Num esquema do tipo Ponzi, devemos destacar, em primeiro lugar, que o endividamento não tem como garantia ativos reais, mas simplesmente dívida futura (ou capacidade de endividamento futuro), e, em segundo, que o mecanismo torna-se possível desde que o fluxo de transações financeiras no mercado tenha sempre um valor presente positivo para o devedor, isto é, que o valor do empréstimo inicial dos credores ao devedor não seja suplantado em valor presente pelos pagamentos deste último aos primeiros. No Brasil, durante os anos 50 esse golpe foi aplicado com a seguinte estruturação: um certo capitão da reserva da Aeronautica de nome Felipe – daí o nome de felipeta(*) para as promissórias assinadas por ele como sinônimos de títulos micados, isto é, sem valor- adquiria automóveis a prazo e vendia à vista com grande desconto; em determinado momento, tão mais próximo quanto maior fosse o desconto dado e menor o número de “clientes”, ele não seria capaz de pagar as prestações com o dinheiro arrecadado pelas vendas à vista, e teria de declarar-se insolvente.

Durante os anos 80, o endividamento externo brasileiro também teve uma trajetória parecida com um Ponzi Game, na medida em que se tentou perpetuar o mecanismo de pagar os encargos do estoque da dívida externa aumentando este estoque com endividamento adicional.

No momento em que os credores internacionais, temerosos dos eventuais efeitos em cadeia da moratória mexicana (1982), reduziram seus empréstimos para a continuação da rolagem da dívida externa brasileira, o sistema entrou em crise e somente em 1994 estabeleceu-se um novo acordo para o pagamento de nossa dívida externa. Veja também Calote; Efeito Ponzi; Mico; Moratória; Plano Brady.

(*) – A letra da música Samba Erudito de Paulo Vanzolini diz a certa altura “… lancei felipetas prá lhe dar um Cadillac…”

mar 28 2007

Crítica de Mandelbrot

O matemático Benoit Mandelbrot, criador dos fractais, apresentou recentemente uma interessante crítica aos métodos de previsão adotados nos mercados financeiros em seu livro “Mercados Financeiros Fora de Controle”. Ele começa estabelecendo alguns pontos de referência em relação aos quais desenvolverá sua crítica.

O primeiro deles é a análise da abordagem denominada “fundamentalista”, isto é da abordagem que parte do estado de saúde dos fundamentos das empresas, organizações etc. que emitem os diversos títulos que são transacionados nas Bolsas de Valores, especialmente as ações, ou do entorno ( setor, mercado, região ) no qual estes organismos desenvolvem suas atividades.

Os estudos destes fundamentos seriam um orientador seguro de qual será o movimento das cotações destes títulos no futuro.A idéia é que o preço de uma ação, debênture, derivativo, moeda, varia por causa de algum fator existente fora do interior da própria Bolsa de Valores.

O pressuposto fundamental é que conhecidas as causas (de preferência, todas) serão conhecidos os efeitos e portanto haverá uma forma relativamente segura de enfrentar o risco.

O principal problema é que nem sempre as causas são conhecidas em sua totalidade e mesmo quando são não é possível dizer com certeza se o seu efeito proporcional ou mesmo se será no sentido x ou no sentido y. Em outras palavras Embora possa existir proporcionalidade entre causa e efeito não se pode dizer de antemão em todos os casos, se a mesma se dá no sentido direto ou no sentido inverso.

A guerra no Iraque (2003) provocaria uma elevação ou uma baixa no dólar , ou no preço do petróleo?

O que torna ainda mais duvidoso o uso dessa abordagem é que mesmo depois do desfecho de algum evento traumático nas Bolsas de Valores torna-se complicado, “ex-post”, deslindar todas as suas causas.

Além disso, o conhecimento das causas de um fenômeno nem sempre é generalizada: há assimetria nas informações, ou melhor, uns tem mais conhecimento do que outros sobre as causas que influem sobre as cotações.

A outra abordagem, ou ferramenta de gerenciamento de riscos é a chamada análise técnica, que se utiliza de gráficos para estimar as cotações futuras. A análise grafista procura encontrar padrões de comportamento do mercado financeiro elaborando gráficos, e nestes, formas que se repetem ( na mesma escala ou em escala diferente) no decorrer do tempo.

Os adeptos da análise técnica elaboram indicadores cujas denominações têm origem nas formas que aparecem nos gráficos tais como cabeça e ombros, bandeiras e flâmulas, triângulos, pontos de suporte e resistência.

Mas se considerarmos que pelo menos teoricamente todos os que participam no mercado têm o conhecimento relacionado com esse tipo de análise, ou melhor se através do comportamento dos gráficos ( e portanto da trajetória passada) se pode conhecer as cotações futuras ( e portanto a trajetória futura) – pelo menos o futuro imediato – todos os agentes saberiam por exemplo qual o melhor momento para a venda ( ou compra) de uma ação ou derivativo.

Isto inviabilizaria a existência do próprio mercado se partimos do suposto da racionalidade dos agentes e deixamos de lado possíveis erros nas emissões de ordens de compra ou venda, pois em determinado momento só existiriam vendedores, em outro, só compradores.

Em outras palavras seria muito complicado supor a existência de um mercado onde só houvessem compradores, ou vendedores, uma vez que a palavra mercado supõe a existência de ambos simultaneamente, um numa ponta e outro na outra.

Embora ambos os enfoques possam trazer resultados positivos para seus aplicadores em alguns momentos e em alguns mercados em particular mesmo a combinação de ambos (se isso for possível) não garante a construção de um sistema global de gerenciamento do risco.

Estas limitações levaram ao surgimento de um novo enfoque denominado “Moderna Teoria Financeira” que parte do princípio de que os preços dos ativos financeiros não são previsíveis mas suas flutuações podem ser descritas por formulações matemáticas da probabilidade.

O ponto de partida desse tipo de abordagem é que num mercado ideal os preços dos títulos refletem plenamente todas as informações relevantes.

O mercado financeiro seria um jogo (honesto, sem manipulação) em que compradores e vendedores se encontrariam e seria alcançado um patamar de preços de equilíbrio. Nesse sentido os mercados financeiros seriam eficientes.O conceito que engloba esta visão denomina-se Hipótese do Mercado Eficiente

A formulação central desta hipótese é que os preços das ações nas Bolsas de Valores têm um movimento aleatório. A análise do movimento dos preços durante um período longo confirma este movimento, na medida do grau de correlação encontrado nos mesmos.

Os proponentes destas formulações consideram, portanto, que as abordagens da Análise Fundamental e da Análise Técnica são de pouca valia para a previsão dos futuros movimentos dos preços das ações, pois se baseiam em dados do passado, cujas flutuações foram aleatórias.

Esta concepção do comportamento do mercado se baseia nas seguintes premissas:

1 – Existem inúmeros participantes num mercado eficiente;

2 – Todos têm acesso às informações relevantes que afetam os preços das ações;

3 – Estes participantes competem livremente e em igualdade de condições pelas ações no mercado de tal forma que as cotações das mesmas refletem os seus respectivos valores (patrimoniais). Neste contexto, e na medida em que novas informações surgem aleatoriamente, seus reflexos nos preços fazem com que estes também se comportem aleatoriamente.

Em outras palavras, as cotações das ações nas Bolsas de Valores seriam as melhores estimativas de seu valor real, devido ao altamente eficiente sistema do mecanismo de preços (flutuações) inerente a um mercado de ações com as características descritas anteriormente. Considerada também em relação às taxas de cambio, esta hipótese significaria que as taxas de cambio a termo (no futuro) são a melhor aproximação do que serão as taxas spot( à vista) no futuro.

Na mesma medida em que os adeptos da Hipótese do Mercado Eficiente criticam os defensores da Análise Técnica e da Análise Fundamental, estes também desfecham suas críticas aos primeiros.

Quais são os pontos fracos da teoria moderna financeira?

1 – Em primeiro lugar o argumento de que os agentes financeiros são racionais e buscam sempre o enriquecimento é questionável na medida em que os agentes podem interpretar de maneira errônea as informações disponíveis, e suas emoções às vezes interferem com a melhor decisão baseada no cálculo das probabilidades ou na racionalidade mais evidente.

A partir dos anos 70 do século passado desenvolveu-se em economia um novo campo denominado economia comportamental que estuda como os elementos psicológicos podem afetar a tomada de decisões e por tanto alterar um resultado esperado pela Hipótese do Mercado Eficiente.

2 – O segundo ponto sustentando que todos os agentes do mercado financeiro são iguais no sentido de terem os mesmos objetivos de investimento, e os mesmo horizontes de tempo não parece se ajustar adequadamente á realidade. Em primeiro lugar os horizontes de tempo dos investidores apresentam grande diversidade: alguns investidores têm uma visão de curto prazo enquanto outros têm de médio ou longo.

Os montantes de recursos de cada agente são diferentes e embora não influam na formação dos preços tomados individualmente, ponderados pela propensão ao risco de cada um podem resultar em diferenças com o comportamento esperado pela Hipótese do Mercado Eficiente. Em outras palavras os agentes não são homogêneos e essa característica pode levar um mercado para um resultado bem diferente do preconizado pela HME .

3 – O terceiro ponto refere-se à forma do movimento dos preços.

De acordo com a HME os preços se moveriam para cima ou para baixo de forma suave e contínua. Este movimento se assemelharia a alguns fenômenos do mundo físico como por exemplo, a variação da temperatura durante o dia que subiria lentamente depois do nascer do sol alcançando um máximo no entorno do meio-dia e depois baixaria ao se aproximar o crepúsculo seguindo uma trajetória definida pela expressão latina, natura non facit saltum.

Na verdade, o movimento dos preços teria uma trajetória diferente. Por um lado nem sempre prevaleceria a continuidade: saltos, pequenos ou grandes podem ocorrer com uma freqüência consideravelmente grande. Por exemplo, observações empíricas mostram que 80% das cotações terminam em 0 ou 5, quando deveriam ocorrer – se houvesse proporcionalidade – apenas em 20% dos casos.

Existiria uma preferência por números “redondos” e não “quebrados”. Por outro, um pregão tem uma duração de várias horas durantes as quais podem chegar notícias favoráveis ou desfavoráveis a certas ações dando lugar a um descasamento entre ordens de compra (ou venda) e as disponibilidades existentes ocasionando fortes oscilações nos preços que seriam a expressão de um novo “equilíbrio”.

Nesse caso a HME também não seria uma ferramenta útil para a previsão dos movimentos e trajetórias dos preços nos mercados financeiros.

4 – O quarto ponto está relacionado com o caráter aleatório das cotações nos mercados financeiros. Para a HME as oscilações

de preços nos mercados financeiros seguiriam um movimento browniano.

Este último termo é tomado da física que significa movimento aleatório das moléculas da água no entrechoque com partículas de pólen, forma que também governaria as variações de preços. Esta afirmação se sustenta em três pressupostos:

A – Os preços variam de forma independente dos níveis anteriores. Uma pequena alta ou uma catastrófica baixa ocorrem de

forma totalmente independente das cotações anteriores. O mercado nesse sentido não teria “memória”. Isso significa que os preços da semana passada ou do mês anterior não podem servir de base para a estimação dos preços de amanhã. O estudo dos gráficos históricos ( a análise técnica) seria por tanto totalmente inútil.

B – O segundo pressuposto é que existiria estacionalidade nas mudanças de preços. Ou seja qualquer que seja o processo de

geração das mudanças de preços, ele tenderá a manter-se inalterado ao longo do tempo. Por exemplo, se os preços se definem num processo de cara ou coroa a moeda não seria substituída no meio do jogo; o que pode ocorrer são mudanças na quantidade de caras ou coroas que saem na unidade de tempo.

C – O terceiro pressuposto é que os preços variam de acordo com as proporções de uma curva normal, isto é, a maior parte do

eventos significam uma variação pequena, e uma pequena quantidade de eventos significam variações muito grandes sendo suas freqüências previsíveis.

Embora criticando a validade de todas essas abordagens Mandelbrot em seu livro “Mercados Financeiros Fora de Controle” parece afirmar que o movimento das cotações das ações e outros títulos nos mercados financeiros poderiam se aproximar das formas fractais. Isto é os movimentos dos preços no longo prazo tenderiam a se repetir só que em diferentes escalas.

As formas observadas nos gráficos das cotações com seus períodos de alta e de baixa se reproduziriam no futuro só que numa escala diferente. Mandelbrot apresenta em seu livro grande quantidade de elementos empíricos para reforçar sua abordagem, sinalizando, no entanto, que a questão está em aberto, e sua própria análise ainda não teve suficiente desenvolvimento para trazer resultados mais solventes. Veja também Fractais; Hipótese do Mercado Eficiente; Mandelbrot, Benoit; Spot; Teoria do Caos.

Dicionário de Economia do Século XXI.

mar 01 2007

Varejo: Ganhos e Perdas

Produção, consumo, ou consumo, produção? Bem dá no mesmo. Ou quase. Se para consumir é preciso antes produzir , a produção também requer o consumo de fatores: mão de obra, materias primas etc. É o chamado consumo produtivo. Mas estamos falando do consumo final, momento no qual o produto desaparece no estomago ou na fantasia de quem o adquiriu.

Numa economia de mercado (numa tribo é diferente, ou pelo menos era…) esta passagem ocorre através de atos de compra e venda e o dinheiro está aí para facilitar as coisas.

Ou, as vezes, para dificultar quando prima pela ausência. A esta etapa se dá o nome de varejo. Quanto mais eficaz a passagem do produto ao consumidor final, isto é, quanto menos esforço uma sociedade necessitar para esta metamorfose, maior será seu bem estar. Nos últimos tempos imensos avanços foram realizados no setor: novos layouts das lojas, ousadas embalagens, logística primorosa e principalmente a revolução da informática.

Apesar destes avanços, permanece a pergunta intrigante: o simples ato de comprar e vender agrega valor a um produto? À primeira vista não: na prateleira do super-mercado ou nas mãos do consumidor o produto é o mesmo. Ainda que antes seja valor de troca e em seguida valor de uso.

Mas olhando o processo como um todo as coisas mudam. Se considerarmos o tempo necessário para que o produto acabado passe às mãos do consumidor final, a resposta pode ser diferente. Quanto menor for, maior será o giro do capital. Um mesmo capital de giro realizará um maior valor de vendas.

O lucro das empresas envolvidas tenderá a ser maior. E frente a custos menores ( se houver concorrência sadia) este aumento de “produtividade” – ou parte – poderia ser repassado aos consumidores finais. Uma questão no entanto conspira contra a redução deste tempo nas grandes cidades: o caos do seu crescimento e a dupla transporte-trânsito cada vez mais complicada e custosa.

A generalização do “just in time”, também na esfera da circulação, faz com que os estoques tendam a se transformar em fluxos. As prateleiras enchem e esvaziam continuamente, e os estoques de muitos pontos de venda estão “permanentemente na rua”.

Ora, o trânsito já emperrado tende a piorar e acaba sendo o verdugo de todos nós. Os custos de ressuprimento aumentam e dois fenomenos perturbadores entram no nosso cotidiano: motoboys e helicópteros.

É possível que parte dos ganhos que o varejo vem obtendo ultimamente na logística, no marketing, na administração de pessoas, no lay-out das lojas, e no controle de estoques se perca no torvelinho destas deseconomias externas.

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br

Posts mais antigos «

» Posts mais novos