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ago 01 2007

Investimento just-in-time

A trajetória do PIB brasileiro tem sido comparada ao vôo de uma galinha. Ave que, dizem, é o cruzamento da águia com o Saci-Pererê: embora tenha asas seu vôo é rastejante, mas às vezes dá uns pulinhos como o Saci. Nos últimos anos, só 2000 e 2004 superaram os 4%. Nos demais, o crescimento do PIB perdeu até para o aumento da população.

A razão básica: o baixo índice de investimentos tanto públicos como privados. Essa inapetência por investir deveu-se, em boa medida, aos desequilíbrios nas contas do governo e no balanço de pagamentos e as respectivas incertezas geradas. Os déficits sucessivos do setor público desembocaram em enorme dívida que obrigou a manutenção de uma taxa de juros generosa para remunerar bem credores cada vez mais desconfiados.

Ao mesmo tempo, o desequilíbrio do setor externo, atiçado pelos déficits comerciais, ampliava nossa dívida externa: a dependência dos bancos internacionais aumentava na mesma proporção da desconfiança de que não seríamos capazes de pagá-la. O risco país disparou e nossas contas externas só começaram a melhorar quando, a partir de 2003, os superávits comerciais inflaram e seguiram expandindo, mesmo com a valorização do real.

Bons preços das commodities e o aumento da produtividade no setor agro-exportador permitiram esse surpreendente resultado. E o dólar barato, embora tenha desestimulado algumas exportações, tornou baratas as importações de máquinas e equipamentos aumentando a produtividade, reduzindo custos e neutralizando, pelo menos em parte, a competitividade perdida pela valorização do câmbio.

Agora, com a taxa de juros caindo num ritmo mais rápido, o consumo de bens duráveis começou a sair da toca. A redução da massa de juros paga pelo governo abre espaço no orçamento e os investimentos do setor público começam a surgir na linha do horizonte empurrados pelo PAC. O nevoeiro macroeconômico que atrapalhava a decolagem do PIB desmancha no ar, embora nuvens negras se acumulem no horizonte do mercado financeiro internacional.

Mas, tantos anos de desleixo com a infra-estrutura e descaso com a capacidade de gestão podem atrapalhar. E muito. Estradas e aeroportos dão sinais de fadiga e desorientação. As filas de caminhões esperando para descarregar nos portos e o caos no tráfego aéreo tem uma significação sintomática. As asas da galinha cresceram, mas ela engordou. As condições macroeconômicas tornam-se mais favoráveis; contudo, as microeconômicas parecem anunciar graves complicações.

O investimento just-in-time se impõe em sua dimensão concreta: onde, como, quanto e em quê? Ou melhor, o investimento na hora certa, no lugar certo, na proporção certa e na atividade certa. Será possível? Ou deveremos esperar mais um par de anos para que o macro e o micro acertem o passo?

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br