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nov 01 2008

Sobre Pães e Idéias na Economia

Adam Smith acreditava que o ser humano possuia uma tendência natural a trocar e a permutar. Se duas pessoas trocassem pães cada uma voltaria para casa com um deles: uma troca de equivalentes. No caso de idéias, esta regra não necessariamente valia, pois cada um poderia retornar com ambas. O pai da economia, no entanto, era alheio aos jogos tipo “ganha-ganha”.

E também à antropofágica certeza de que uma invariavelmente devoraria a outra. Smith, é verdade, combateu mercantilistas e fisiocratas: ao comércio ou à agricultura contrapunha o trabalho – e sua divisão- como a fonte da riqueza de uma nação. Esta idéia revolucionária, que desembocava na liberdade dos mercados e rechaçava a intervenção estatal, não surgiu numa fábrica de alfinetes.

Já existia na sociedade empurrada por ousados capitães de fábricas, que arrebentavam os grilhões do feudalismo em decadência. Mas, quando o capitalismo entrou em crise, estas idéias também foram atropeladas. Clamava-se pela intervenção estatal e Keynes trouxe a legitimidade necessária em nome da salvação do sistema: a água era suja, mas apagava o incêndio.

Os governos capitalistas se acostumaram a gastar para criar demanda efetiva e evitar o ciclo no contra-pé. Por um tempo, deu certo. Os países socialistas no entanto ainda permaneciam como alternativa: distribuiam bem o que produziam mal. Neles a mercadoria deixava de existir: a troca era transformada em simples distribuição. Mas surgia uma pergunta corrosiva: para que produzir valores de uso, isto é, coisas úteis se não era necessário confirmá-las na troca?.

A qualidade dos produtos e a inovação tecnológica eram imoladas em nome do igualitarismo. Na outra ponta, os produtos capitalistas tornavam-se imbatíveis e sedutores. As telecomunicações se encarregaram de mostrar a diferença e a idéia de economia centralmente planejada, agonizou.

O capitalismo estava livre para a vingança neoliberal: se o estado asfixiava, que o mesmo fosse enforcado. A idéia do estado mínimo e barato deu volta ao mundo em menos de 80 dias desembarcando em Washington, terra do consenso. O esperanto economico se esparramou, anunciando que o estado tornara-se um mal desnecessário. Mas em estado puro, sabemos, o mercado é instável, turbulento, volátil e cruel. E pior, imprevisível.

Como evitar tais males? Um pitada de intervenção regulatória ( e punitiva) não faria mal a ninguém, nem uma rede para amparar os excluídos. Mas sem exageros… E o futuro? Bem este poderá ser melhor antecipado por um mergulho no interior do cérebro humano: quais os neurônios responsáveis pela tomada de decisões? Nossa sorte está entregue aos economistas que hoje desenvolvem novas idéias nos campos da psicologia e da neurologia.

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br