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out 24 2008

A Bolha Imobiliária e o Risco Moral

Moral Hazard, expressão cunhada por Kenneth Arrow em seu livro Essay in the Theory of Risk-bearing, pode ser traduzida por “risco moral”. Significa excesso de confiança dos agentes econômicos de que alguém os socorrerá se alguma coisa der errado em suas operações. Em termos mais concretos: o Banco Central providenciará uma rede de proteção se ocorrerem grandes perdas decorrentes de uma avaliação errônea dos riscos apresentados por determinado mercado, especialmente o financeiro.

Na prática, significa maior propensão ao risco, ou melhor, comportamento ousado e temerário, o que pode colocar em grande perigo a estabilidade de uma economia.
Os estragos do moral hazard são especialmente elevados no mercado financeiro, pois a diversificada articulação das várias formas de investimento num mundo globalizado significa que perdas em um ponto podem se espalhar com grande rapidez por toda a rede. Basta que, em determinada Bolsa de Valores, uma destas articulações se rompa, especialmente se for um importante entroncamento financeiro, para que todo o restante desmorone.

Quando a taxa de juros é baixa, a inclinação por operações arriscadas aumenta ainda mais. Foi o que ocorreu nos Estados Unidos depois dos atentados de 11 de setembro, quando, para neutralizar as incertezas que ameaçavam desacelerar a economia, o dr. Alan Greenspan cortou os juros drasticamente. Durante três ou quatro anos, a prime rate parecia ter nascido no Japão.

Porém, nem todos os tomadores de empréstimos tinham a solvência necessária para desfrutar do clube da prime rate. Para estes, a saída, ou melhor a entrada, era o sub-prime: taxas de juros mais elevadas (embora baixas) compensavam o risco (maior) de inadimplência. Mas, quando as taxas começaram a subir entre 2005 e 2007 as coisas se complicaram especialmente nos financiamentos de longo prazo como é o caso do mercado de hipotecas.

O problema é que os títulos de dívida sub-prime, respaldados, diga-se de passagem, por importantes agencias de rating, passavam de mão em mão como se fossem blue-chips. Muitos destes créditos receberam a classificação de AAA, quando deveriam ter no máximo um há! há! há! O desastre da inadimplência anunciado desde 2006 afetou duramente as bolsas norte-americanas entre julho e agosto de 2007 e se espalhou por todo o mundo obrigando os Bancos Centrais dos países ricos a injetar dinheiro no mercado a um custo mais baixo para evitar uma crise financeira geral.

A crise foi contornada, mas a contaminação do setor produtivo tornou-se inevitável.
A recessão bateu à porta da classe média e, para evitar o pouso forçado o Banco Central (Fed ), reduziu a prime-rate de uma só tacada em 0,5%. O moral hazard funcionou, evitou-se o pior, mas muita gente vai sair machucada, e sem um teto para curar as feridas. Para esta gente o Presidente Bush já está prometendo uma rede de proteção pois as eleições se aproximam e ninguém é de ferro.

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br