»

mar 28 2006

O Crescimento Economico e a Regra do 72

Quando as calculadoras eletrônicas eram desconhecidas até do Ray Bradbury ou do Arthur Clark, quem trabalhava no mercado financeiro tinha um método ardiloso para estimar taxas de juros compostas de cabeça. Era a famosa regra do 72. Bastava dividir 72 por uma taxa, – digamos 4% ao mês – e dizer com certa displicência ao cliente: “18 meses”. O resultado não era milimétrico, mas impressionava…

Nos bons tempos em que a economia brasileira crescia em média 7% ao ano, a cada 10 anos ( e uns 2 meses) o nosso Pib dobrava o que de fato aconteceu nos anos 50 e 70. No entanto a partir dos anos 80 essa média caiu drásticamente, não alcançando 2,0% nos últimos três anos. Nesse ritmo, para dobrar o Pib, teríamos que amargar mais de 36 anos, algo intolerável para quem já esperou tanto.

Enquanto isso, a China, crescendo em média 9% ao ano, em 2012 terá dobrado seu Pib atual e se tornado a terceira potencia economica mundial ( hoje é a 7a.) só abaixo dos Estados Unidos e do Japão. É claro que as coisas não são tão simples. Lembremos que o Japão, depois de crescer milagrosamente entre 1950 e 1980, começou a bater pino a partir dos anos 90, caiu na armadilha da liquidez: há anos o Pib japonês virou nota de rodapé.

Mas não resistí à tentação de fazer estes cálculos depois que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci declarou que nosso ajuste fiscal ( mega superavits primário e comercial) deveria durar 10 ou 12 anos. O lado bom desta declaração é que o governo federal revela possuir um plano de longo prazo e, ao que parece, não sucumbirá às tentações dos “efeitos pirotécnicos”. Isto é, não patrocinará bolhas de crescimento pré-eleitorais: a inflexível e desgastante proposta de um mínimo de R$ 260 tem uma significação sintomática.

O lado preocupante da declaração é que para alcançar tais metas, pilares da política de ajuste, o juro real deverá se manter elevado e o cambio desvalorizado. A idéia é que aos poucos ( depois de quantos anos?) a dívida interna diminua em relação ao Pib e seus prazos de pagamento se alonguem. A rolagem da dívida interna seria mais fácil, o superavit primário poderia diminuir e sobrariam uns trocados para investimentos do setor público. Se isto ocorrer os juros poderiam então cair para os chamados níveis civilizados estimulando o investimento e o consumo.

O cambio teria mais liberdade para se valorizar o que ajudaria no combate aos choques inflacionários externos. Se ficar claro, no entanto, que o ajuste exigirá um sacrifício prolongado, é duvidoso que a alternativa tenha sustentabilidade política. O governo anterior tentou algo semelhante entre 1999 e 2002 e o resultado foi um grande fiasco, economico, político e eleitoral. Estaremos presenciando uma nova tentativa?

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br