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jul 01 2008

Previsões: Meteorológicas ou Econômicas?

Previsões econômicas e meteorológicas, no passado, tinham algo em comum: ambas eram alvo de chacotas ou ácidas ironias, pois raramente acertavam. De uns tempos para cá as meteorológicas melhoraram bastante. As econômicas deixam cada vez mais a desejar.

Há uma diferença crucial entre os dois campos do conhecimento: as mutações na natureza – exceto as microbianas – são lentíssimas; na economia podem ocorrer com a velocidade da luz pois estão sujeitas à teclas de computador e alguma coisa que se poderia chamar de vontade. Especialmente a vontade de esconder e de ocultar. Ou de enganar.

Não é porque Kepler descobriu as leis do movimento dos planetas que o Criador teria exclamado: “Ah! Este espertinho matou a charada. Vamos agora colocar a Terra girando entre Marte e Júpiter!”.

Na economia, no entanto, onde o ganhar ou perder depende em grande medida da arte de iludir, as previsões podem falhar e gerar grandes crises. As organizações esperam até o último minuto para revelar suas falcatruas. O que se pensava sólido transforma-se num pântano que devora as mais realistas ilusões.

Foi o que aconteceu em março de 2008 com o Bear Sterns quinto maior conglomerado financeiro dos Estados Unidos arrematado pelo JP Morgan por um pires de lentilhas com a benção da Reserva Federal.

Robert Shiller, economista norte-americano diz que se o preço de um título financeiro incorporar toda a informação necessária, as oscilações de suas cotações serão mínimas.

E as crises financeiras idem, idem. O problema reside em definir “toda a informação necessária”, pois ninguém sabe quais são seus limites. Além disso, é preciso avaliar se a informação é verdadeira ou não. Melhor, se não foi divulgada para enganar ou induzir o interlocutor a erro.

Dispositivos como a lei Sarbanes-Oxley (voltada para coibir irregularidades ou fraudes contábeis) e instrumentos como o Balanced Score Card (destinados a produzir indicadores mais consistentes) ajudam a dar mais transparência aos negócios mas são claramente insuficientes.

Será que o trauma de uma nova crise internacional levará as autoridades monetárias

(especialmente dos Estados Unidos) a começar a zelar pela qualidade dos títulos emitidos no mercado para coibir práticas de alavancagem financeira, que embora legais, como as hipotecas subprime, empurram o mundo para o limiar de um abismo?

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br

1 comentário

  1. paulo sandroni

    Thansk for your comments. I am preparing some texts in English so to enhance the number of interested people to discuss these matters.

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