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fev 01 2015

O Esperanto Econômico e a Cumbuca de Maldades

Deus é brasileiro, mas São Pedro parece ser argentino…”

As promessas de campanha, dizia um velho político, valem cem dias: intervalo entre a eleição e a posse. Entre nós, não durou setenta. Antes que a vaca começasse a tossir, a nova equipe econômica  tomou as primeiras medidas para o rearranjo das quatro taxas do apocalipse: juros, cambio, impostos e  salários. Qualquer ajuste fiscal demanda um relacionamento especial entre estas taxas. A linguagem do ajuste, falada por grande parte dos especialistas é o esperanto econômico cujo estribilho é: aumentar os juros (a Selic), os impostos, desvalorizar o câmbio e comprimir os salários. Os dois primeiros já subiram. O impacto nos dois restantes é uma questão de tempo.

Resultado: antes de melhorar (uma possibilidade) vai piorar (uma certeza).

Em economias de mercado, o investimento depende do setor privado. Sem ele a economia não cresce. Para isso é indispensável que os empresários recobrem a confiança na política econômica, perdida por quatro anos de malabarismos. Entre outros, o apelo à contabilidade criativa que engana no curto prazo, mas que é destrutiva no médio, para não falar do longo. Esta forma peculiar de encarar os números contribuiu para nos levar ao atoleiro da estagnação.

A inflação crescerá num primeiro momento, o mesmo acontecendo com o desemprego. Os salários deixarão de aumentar, e poderão até cair. Os juros em elevação contribuirão para um cambio valorizado, é verdade. Mas se eles subirem nos Estados Unidos este efeito poderá ser mais do que neutralizado. As perspectivas para 2015 são ruins.

Que faria a oposição se tivesse vencido as eleições? Nada muito diferente. Talvez adotasse medidas desagradáveis mais rapidamente para colher frutos na segunda metade do mandato. A Presidente  Dilma seguiu o figurino tipo FHC: no primeiro mandato deu a festa, para pagar a conta no segundo.  Para ela, as eleições deixaram de ser um problema. Agora é problema do PT, que pensa em 2016 e em 2018 com ansiedade depois da esmerilhada que sofreu nas eleições de 2014. No interior deste partido as tensões aumentam e as primeiras rachaduras começam a aflorar: dizem alguns – com razão – que ela, a Presidente, está fazendo exatamente o que criticava em seus oponentes. Outros garantem que ela foi contaminada pelo vírus do neoliberalismo.

Mas, para explicar eventuais inflexões a melhor resposta é o silêncio. Deixa que seus eloquentes e obedientes ministros se queimem e ouçam o ranger dos dentes da militância, e do povo.

O ministro da Fazenda parece contar com o apoio dos empresários. Isso só não basta: é preciso saber quanto tempo levará até que este apoio se transforme em investimentos. Os do governo devem minguar em função do ajuste fiscal. Os esforços para aumentar a receita em R$ 20 bilhões, anunciados em janeiro pela troika da economia foram devorados em mais da metade pela elevação da Selic (0,5%) que obriga o governo a pagar mais juros pela dívida pública. Parece que  a dose foi insuficiente.

Além disso, como diria aquele filósofo alemão do século XIX que não gostava dos barbeiros: “O espectro do apagão ronda a economia brasileira!” Em 2001 ele causou um recuo de 1,5 pontos percentuais no Pib. As estimativas para este ano já são próximas de zero. Se faltar energia certamente o PIB será negativo em 2015. Mas, como desgraça pouca é bobagem, ainda enfrentamos a ameaça de falta d’água. Nos principais conglomerados urbanos do país – São Paulo, Rio e Belo Horizonte – os reservatórios estão chegando ao fim mesmo no meio da estação chuvosa. As famílias já enfrentam sérios problemas de abastecimento. Mas, a maior parte de nossos recursos hídricos é consumida pela indústria e pela agricultura. E a água escasseia exatamente no sudeste onde o consumo é maior. 2015 será marcado certamente como o ano que reuniu o pior dos dois mundos: recessão,  inflação e desemprego combinados com falta d’água e de energia elétrica.