dez 01 2009

Os Custos da Epidemia e a Epidemia de Custos

O Dr. William Gorgas, médico que comandava o saneamento da área onde o Canal do Panamá estava sendo construído, foi chamado pelo coronel George W. Goethals, o todo poderoso chefe da obra. Apreensivo, pois as relações andavam meio azedas, o médico se apresentou.

O militar foi logo dizendo:

“Nem mais um centavo para matar mosquitos! Cada um que o senhor matou custou mais de 10 dólares!”

O Dr. Gorgas tremeu, mas arrancou forças deus sabe de onde para responder:

“ E saiu barato! Imagine se um desses tivesse mordido o senhor?”

O coronel resmungou algo , mas o médico continuou tendo recursos para transformar o Canal numa das áreas mais seguras do mundo.

No início do século XX não existia vacina contra a febre amarela (como hoje não existe contra a dengue que assola hoje o Rio de Janeiro). A picada era assustadoramente letal. E o mosquito não escolhia entre ricos ou pobres, brancos ou negros, americanos ou panamenhos. Apenas os enterros eram feitos em cemitérios separados.

Este episódio evoca a questão: quanto custa uma epidemia? É difícil responder, pois aos custos objetivos e atuariais das mortes (além dos hospitalares), ou dos dias não trabalhados pelos sobreviventes, devemos somar os danos subjetivos ou morais e estes deságuam no poço do insondável. Os primeiros são muito elevados; os últimos inconsoláveis.

Mas os custos de evitar uma epidemia são facilmente determináveis. E são baratinhos. Basta que as terapias sejam aplicadas continuamente e as campanhas contra o mosquito desfechadas com o mesmo empenho com que se combate a inflação. Mas ao invés disso o que vemos é uma verdadeira epidemia de custos, tão intoleráveis quanto a presença do mosquito, para dizer o mínimo. Quando um ex-ministro da República gasta mais de
R$ 1.400,00 numa diária de hotel, (no Brasil), Reitores Federais embelezam seus apartamentos com mais de R$ 500 mil e compram malas na China por mais de R$ 2.000,00 e um Governador aluga jatinho para passear com a família na Europa, além de gestos escandalosos denotam evidente desproporcionalidade na utilização de dinheiro público. No Rio de Janeiro as larvas do aedes aplaudem, assistem calmamente a um Fla x Flu pois estarão à salvo por mais uma temporada.

Atribui-se a Confúcio ter indicado as quatro formas de aprender: a repetição, o trauma, o trauma da repetição, e a repetição do trauma. Em matéria de dengue e febre amarela, nos últimos cem anos, já vivenciamos as quatro. Ao que parece, ainda não aprendemos o suficiente. Ou será que existe outra maneira que escapou ao grande sábio chinês?

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br

out 12 2009

Lei de Wagner

Forma de participação da despesa pública na renda nacional, elaborada pelo economista alemão homônimo no final do século XIX. O elemento central desta lei é que o desenvolvimento industrial provoca um aumento da participação das despesas públicas na renda nacional, devido às seguintes causas:

1) um aumento relativo dos custos com administração pública,
a garantia da lei e da ordem e os elementos reguladores numa sociedade que se industrializa;

2) bens e serviços oferecidos pelo Estado nas áreas de cultura e bem-estar teriam uma elasticidade na renda da demanda maior do que a unidade. Assim, na medida em que a renda aumentasse, a demanda por tais bens e serviços aumentaria mais do que proporcionalmente, pressionando os gastos públicos;

3) a industrialização seria acompanhada pela formação de oligopólios e monopólios, os quais exigiriam um grau maior de controle estatal, o que significaria também um aumento das despesas correspondentes.

Embora muitas das economias européias tivessem apresentado situações em que as despesas do Estado aumentaram mais do que proporcionalmente à renda (não necessariamente pelas razões apresentadas por Wagner), na medida em que essas conclusões não se baseiam em uma teoria sobre o comportamento humano ou na ação dos governos, o que se apresenta como “lei” não passa de uma série de constatações que podem ou não se repetir em economias que atravessam intensos processos de industrialização.

Dicionário de Economia do Século XXI

Veja também: Wagner, Adolph Heinrich Gotthelf.

Forma de participação da despesa pública na renda nacional, elaborada pelo economista alemão homônimo no final do século XIX. O elemento central desta lei é que o desenvolvimento industrial provoca um aumento da participação das despesas públicas na renda nacional, devido às seguintes causas:

1) um aumento relativo dos custos com administração pública,
a garantia da lei e da ordem e os elementos reguladores numa sociedade que se industrializa;

2) bens e serviços oferecidos pelo Estado nas áreas de cultura e bem-estar teriam uma elasticidade na renda da demanda maior do que a unidade. Assim, na medida em que a renda aumentasse, a demanda por tais bens e serviços aumentaria mais do que proporcionalmente, pressionando os gastos públicos;

3) a industrialização seria acompanhada pela formação de oligopólios e monopólios, os quais exigiriam um grau maior de controle estatal, o que significaria também um aumento das despesas correspondentes.

Embora muitas das economias européias tivessem apresentado situações em que as despesas do Estado aumentaram mais do que proporcionalmente à renda (não necessariamente pelas razões apresentadas por Wagner), na medida em que essas conclusões não se baseiam em uma teoria sobre o comportamento humano ou na ação dos governos, o que se apresenta como “lei” não passa de uma série de constatações que podem ou não se repetir em economias que atravessam intensos processos de industrialização.

Veja também: Wagner, Adolph Heinrich Gotthelf.

ago 12 2009

Modelo Lewis-Fei-Ranis

Dicionário de Economia do Século XXI.

Um modelo de desemprego em países em desenvolvimento elaborado por Arthur Lewis entre 1954 e 1958 e formalizado por Fei e Ranis em 1964. O modelo destaca a necessidade de distinguir o setor agrícola do industrial numa economia dualista, isto é, caracterizada pela separação entre os dois setores, por diferenças acentuadas na forma de produção entre eles (capitalistas e pré-capitalistas) e pelos fluxos migratórios entre ambos.

O setor agrícola é considerado operando em nível de subsistência. Possui excedentes de mão-de-obra que se deslocam gradualmente para o setor moderno (indústria). O grau de absorção dessa mão-de-obra depende da taxa de acumulação de capital na indústria e, portanto, dos seus níveis de lucro, os quais são por hipótese reinvestidos. Lewis considerava originalmente o nível de salários na indústria constante em sua relação com os níveis de renda de subsistência existentes na agricultura.

O pleno emprego seria alcançado quando todo o excedente da agricultura fosse assimilado pela indústria. Este modelo contribuiupara o desenvolvimento dos estudos sobre as relações entre campo e cidade ou agricultura e indústria nas economias em desenvolvimento. No entanto, a evidência empírica dos países em desenvolvimento contestou dois dos pressupostos do modelo:

1) o desemprego é relativamente pequeno nas áreas rurais e elevado nas áreas industriais;

2) os salários industriais, ao contrário de se manter constantes, aumentam se comparados com os níveis de renda existentes na agricultura.

Veja também: Modelos Econômicos.

jul 12 2009

Axiomas da Preferência

Dicionário de Economia do Século XXI.

Na Teoria da Demanda (do consumidor), parte-se do pressuposto de que os consumidores agem racionalmente e de acordo com axiomas os quais, combinados, constituem uma teoria (verificável) do comportamento do consumidor. Esses axiomas (da preferência), decorrentes da análise de curvas de indiferença, são basicamente os seguintes:

1) axioma da completness, o qual tão-somente assinala que o consumidor é capaz de indicar todas as combinações possíveis de bens de acordo com suas preferências;

2) axioma da transitividade, o qual assinala que se uma combinação de bens Y é preferível a outra combinação X, e X, por sua vez, é preferível a Z, então, por transitividade, Y é preferível a Z. A violação (negação) deste axioma seria indicador de irracionalidade, ou uma situação de paradoxo, como acontece na prova desenvolvida por Maurice Allais (veja Paradoxo de Allais);

3) axioma da seleção, o qual simplesmente assinala que o consumidor busca sempre seu estado de maior preferência (os axiomas 1 e 3 são considerados axiomas de racionalidade, enquanto os demais são denominados axiomas de comportamento);

4) axioma da dominância, o qual estabelece que os consumidores preferirão mais e não menos bens disponíveis. Este axioma é também conhecido como o axioma da “ganância ou avidez”, da não-saciedade ou da monotonicidade;

5) axioma da continuidade, o qual afirma que existe um conjunto de pontos que forma um limite (ou uma curva de indiferença), que constitui uma linha divisória separando as combinações preferidas daquelas rejeitadas, ou melhor, que uma curva de indiferença apresenta um formato linear e não de uma nuvem de pontos ou de um borrão;

6) axioma da convexidade, o qual afirma que a curva de indiferença é convexa em relação à origem.

Veja também: Curva de Indiferença; Paradoxo de Allais.

jun 12 2009

Aversão ao Risco

Dicionário de Economia do Século XXI.

É a atitude de quem não quer correr riscos. Entretanto, as pessoas têm comportamentos diferentes em relação ao risco. Umas tendem a correr mais riscos do que outras.

Os mercados financeiros não funcionariam se não existissem tais diferenças. No entanto, quando a situação econômica e financeira não está boa e a maioria experimenta perdas, a aversão ao risco cresce e se generaliza. Os investidores
se deslocam para aplicações em títulos que ofereçam grande segurança, embora com baixa rentabilidade.

No jargão financeiro, essa postura denomina-se “dançar com a irmã”, isto é, preferir não correr riscos, embora tenha baixa rentabilidade

Veja também: Incerteza; Risco

maio 12 2009

Regra de Hoteling

Dicionário de Economia do Século XXI.

Regra estabelecida por Harold Hoteling (1895-1973) para a utilização ótima de recursos naturais não-renováveis em seu artigo de 1931, “The Economics of Exhaustible Resources”, segundo a qual a trajetória da extração de um recurso não-renovável no tempo para ser ótima, o preço líquido (preço de venda menos o custo de extração) de uma unidade do recurso que permanece na terra deve crescer a uma taxa equivalente à taxa de juros. A razão é a seguinte: o proprietário de um recurso natural tem a opção de extraí-lo e utilizar as receitas líquidas correspondentes no mercado financeiro à taxa de juros vigente ou deixá-lo intocado no solo.

Ele somente se interessará pela segunda alternativa se o preço líquido se elevar na mesma medida da taxa de juros, de tal forma que ambas as alternativas proporcionem o mesmo rendimento. Essa mesma regra pode ser enunciada da seguinte maneira: o valor presente de uma unidade do recurso natural deve ser o mesmo independente de quando for extraído. Essa regra não é válida em regimes de mercado de concorrência imperfeita.

Veja também: Concorrência Imperfeita; Hoteling, Harold; Recurso Não- Renovável

abr 12 2009

Relações de Troca (Manifestações de)

Dicionário de Economia do Século XXI.

Em 1924, o presidente Arthur Bernardes assim se manifestava “podemos entender a influência da depreciação dos nossos productos de exportação, a que só fazem excepção o café, o algodão, o assucar, as peles, o arroz e os fructos oleaginosos no período compre¬hendido entre 1913 e 1923, pela seguinte observação. Em 1913 a nossa Exportação attingiu a 1.382.072 toneladas, das quaes 822.616 cabiam ao café, ficando 559.456 para os demais productos. Pois bem, o valor total da Exportação foi aquelle ano de, 65.541.000 ¬Libras, e em 1923 de 73.184.000 Libras, o que indica como preço médio de tonelada, respectivamente, 47.3.0 L e 32.8.0 L.

O mais surprehendente porém, é que as 559.456 toneladas de productos outros que não o café, enviados para o estrangeiro, valiam em 1913, 24.672.000 L, e 1.333.558 toneladas, que exportávamos em 1923, afóra o café, não deram mais de 26.106.000 K, o que quer dizer: o brasileiro produziu mais de duas vezes, em quantidade e recebeu quase a mesma importância em ouro do consumidor estrangeiro. O preço médio de tonelada desses¬ productos foi, em 1913, 44.8.0 L e em 1923, 19.1.0 L”. Citado por Carlos Inglez de Souza,¬ A Anarchia Monetária, São Paulo, 1924.

Veja também: Relações de Troca.

mar 28 2009

Crise Financeira: Derivativos e Alavancagens

Se operasse em Wall Street Arquimedes diria: “dêem-me um derivativo e uma alavancagem que eu afundarei o sistema financeiro”. A crise que nos atormenta está ancorada nestas duas palavras: derivativo e alavancagem. Estas por sua vez se originam na tendência geral do mercado financeiro de crescer mais do que os recursos reais permitem. Este mercado opera com o futuro e este entra em contradição com o presente. De que maneira? Bem, a economia está apoiada na produção de bens e serviços.

O crescimento destes é “lento” e depende do binômio investimento/consumo. Para investir os agentes contam geralmente com financiamentos, obtidos nas entranhas do monstro tentacular dos Bancos de Investimento, das Bolsas de Valores e dos instrumentos sofisticados e complexos denominados opções e derivativos. Os investidores se endividam na esperança de obter lucros futuros crescentes com a venda de produtos e serviços. Quando as taxas de juros são muito baixas, esta busca torna-se frenética. Se o financiamento é barato, não só o investimento se amplia. Seu irmão siamês, o consumo, tende a explodir.

Nos Estados Unidos, país viciado em consumo, as dívidas se multiplicam. Seus Bancos praticam uma alavancagem temerária: emprestam mais do que seria recomendável para ganhar, ganhar,… Uma bolha começa a se formar. Por que as taxas de juros baixaram tanto nos Estados Unidos entre 2000 e 2004? Bem, no final dos anos 90 diante da “exuberância irracional” do mercado acionário o então presidente do FED Alan Greenspan elevou as taxas de juros para cerca de 6%. As tendências recessivas que se seguiram levaram o FED a voltar a reduzi-las e mais ainda após os atentados de 11 de setembro. A Prime Rate oferecida aos mais solventes, tornou-se negativa, inferior à taxa de inflação. Para ganhar mais os Bancos começaram a sair à caça da turma do Subprime.

Ou seja, clientes com garantias precárias, barrados no clube da Prime Rate, mas dispostos a pagar taxas mais elevadas. Embora superiores estas taxas fossem ainda inebriantemente baixas para muitos. Mas a partir de 2004 a ameaça de inflação fez com que o FED elevasse outra vez a Prime Rate que alcançou mais de 5,0%. A Subprime saltou para o dobro. Como os contratos da turma do Subprime foram feitos a juros variáveis estes se tornaram impagáveis e a inadimplência se alastrou. Tarde demais, pois estas dívidas haviam sido espalhadas pelo mundo vestidas de opções e derivativos, circulando como “bona moneta”. Na verdade tratava-se de um perigoso vírus. A começar pelos Estados Unidos, seguradoras e Bancos hipotecários contaminados começaram a quebrar em várias partes do mundo.

Cada anúncio de socorro feito pelo governo era seguido de novas declarações de falência. As Bolsas de Valores despencaram com quedas inéditas. O uso do “circuit braker” tornou-se freqüente. Na iminência de uma crise financeira global, e do salve-se quem puder, a mão invisível de Adam Smith foi substituída pela mão visível da intervenção governamental em larga escala a um custo aproximado de três trilhões de dólares. Em meados de outubro de 2008 a crise parece ter sido contida, mas as ameaças de uma recaída ainda não foram afastadas. O “day after” anuncia uma recessão mundial das boas, forma em que a conta será apresentada ao distinto público. A pergunta que se coloca é: a crise é uma anomalia passageira do sistema e a estabilidade sua condição normal ou como já afirmavam Marx, Keynes e Minsky trata-se de sua característica fundamental?

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br

mar 12 2009

Relações de Troca

Dicionário de Economia do Século XXI.

Relação entre os preços de exportação e os preços de importação de um país. O índice que mede esta relação, geralmente calculado por meio dos índices dos preços das exportações e das importações, reflete a posição de cada país em termos de seu poder de compra em âmbito internacional. Se os preços das exportações sobem mais rapidamente (ou caem mais devagar) que os preços das importações, diz-se que há um aumento ou melhora nas relações de troca.

Quando ocorre o inverso, isto é, quando os preços das importações sobem mais (ou diminuem menos), há uma queda na relação de trocas, também denominada “deterioração das relações de troca”. Em geral, calcula-se a evolução das relações de troca de acordo com a fórmula: P x exp. / P x imp., isto é, tomando-se os respectivos índices (a partir de um ano-base = 100), dividindo um pelo outro e multiplicando por 100.

Por exemplo, depois da crise econômica de 1929, os preços de nossas exportações (lideradas pelo café) caíram acentuadamente, enquanto o de nossas importações aumentaram (de maneira suave nos primeiros anos e acentuada nos anos finais da década de 30), como pode ser avaliado pelos seguintes dados:

Exportações Importações
Ano Índice
de Preços
Índice
de Preços
Índice de
Relação de Trocas
1929   100
100

100/100 x 100 = 100,0

1930     71
107

71/107 x 100 = 66,3

1931    74
118

74/118 x 100 = 62,7

1932    71
105

71/105 x 100 = 67,6

1933    63
109

63/109 x 100 = 57,7

1934    71
116

71/116 x 100 = 61,2

1935    85
179
85/179 x 100 = 47,4
1936    85
191

85/191 x 100 = 44,5

1937    88
200

88/200 x 100 = 44,0

1938    75
216

75/216 x 100 = 34,7

1939    77
208

77/208 x 100 = 37,0

De acordo com os dados acima, podemos observar que o índice de relações de troca diminuiu 63% (100-37) entre 1929 e 1939. A queda na relação de trocas se acentua na segunda metade da década, pois, embora em certa medida os preços das exportações deixassem de diminuir e se estabilizassem a partir de 1935, o preço das importações aumentou expressivamente a partir daquela data até o final da década.

Veja também: Capacidade para Importar; Estruturalistas; Furtado, Celso; Prebisch, Raul.

mar 01 2009

Regulação Necessária

Adam Smith acreditava que o ser humano possuía uma tendência natural a trocar e a permutar. Se duas pessoas trocassem pães, cada uma delas voltaria para casa com um deles: uma troca de equivalentes. Se trocassem idéias, a regra não se aplicaria pois cada um poderia voltar com ambas.

Embora simpático aos jogos tipo “ganha- ganha” Smith combatia as idéias de mercantilistas e fisiocratas ainda muito em voga no Continente. Ao comércio ou à agricultura contrapunha o trabalho – e sua divisão – como a fonte da riqueza de uma nação.

Esta idéia revolucionária, que desembocava na liberdade dos mercados ( dos outros) e rechaçava a intervenção estatal, não surgiu em uma fábrica de alfinetes. Navegava, empurrada por ousados capitães-de-fábrica, que arrebentavam os grilhões do feudalismo em decadência. Mais tarde, quando o capitalismo entrou em crise, estas idéias também foram atropeladas.

Keynes trouxe a lógica e a legitimidade necessárias da intervenção estatal, em nome da salvação do sistema: a água era suja, mas apagava o incêndio. Os governos capitalistas se acostumaram a gastar para criar demanda efetiva e evitar o ciclo no contra-pé. Por um tempo, deu certo.

Os países socialistas, no entanto, ainda permaneciam como alternativa: distribuíam bem o que produziam mal. Neles, a mercadoria deixava de existir: a troca era transformada em simples distribuição.

Mas surgia uma pergunta corrosiva: para que produzir valores de uso, isto é, coisas úteis, se não era necessário confirmá-las na troca? Imolava-se a qualidade dos produtos e a inovação tecnológica em nome do igualitarismo- distributivista. Na outra ponta, os produtos capitalistas tornavam-se imbatíveis e sedutores.

As telecomunicações se encarregaram de mostrar a diferença, e a idéia de economia centralmente planejada agonizou. O capitalismo estava livre para a vingança neoliberal: se o Estado asfixiava, que também fosse enforcado.

A idéia do Estado mínimo e barato deu volta ao mundo em menos de 80 dias, desembarcando em Washington, a terra do consenso. O esperanto econômico se esparramou, anunciando que o Estado tornara-se um mal desnecessário e que a lógica do mercado seria o novo fio-condutor das políticas nacionais. Porém, em estado puro, o mercado é turbulento, volátil e cruel.

E pior, imprevisível. Além disso, é incapaz de manter- se em equilíbrio. Na ânsia de expansão, engendra exclusão e enormes sobressaltos para os incluídos: uns não comem, outros não dormem. Como abrir espaço então para as questões sociais com o dragão à solta?

A resposta tentativa é conhecida: uma pitada de intervenção regulatória (e punitiva) não faz mal a ninguém, nem uma rede para amparar os excluídos.

Mas, sem exageros… E as incertezas? Bem, basta mapear o cérebro humano e identificar os neurônios responsáveis pela tomada de decisões. Com a palavra os neuroeconomistas.

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br

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