set 09 2011

Paradoxo da Parcimônia

Dicionário de Economia do Século XXI.

A aparente contradição existente entre poupanças excessivas que -resultam em poupanças reais mais baixas, quando a economia está operando num ponto inferior ao do pleno emprego. Nessa circunstância, o excesso de poupança permanece fora da economia, causando uma queda na renda e na produção.

Ao contrário, se as poupanças forem gastas e canalizadas para a economia, o investimento e a riqueza real aumentarão. Este princípio, desenvolvido por J.M. Keynes, foi aplicado em primeiro lugar à economia norte-americana, deprimida durante os anos 30, com seu elevado grau de desemprego.

Se, no entanto, a economia se encontrasse em pleno emprego, o excesso de poupança poderia ser benéfico: a utilização dessa poupança geraria uma demanda extra que não encontraria resposta na produção, uma vez que a economia se encontraria em pleno emprego, provocando inflação. A renda nominal aumentaria, mas o mesmo não aconteceria com a renda real.

mar 28 2011

Competir para Sobreviver

Um torrão de açúcar à direita, outro à esquerda. Neuroticamente eqüidistantes de um formigueiro, para que a escolha das formigas seja absolutamente aleatória. A primeira que chegar num deles enviará mensagens. Conhecido o caminho, as demais se encarregarão de devorá-lo. Só depois se dirigirão para o outro. Com os produtos as vezes acontece o mesmo.

A escolha inicial entre dois, muito parecidos, determina o futuro de ambos: um é disputado a tapas; o outro, embora tão bom quanto, mergulha no esquecimento. Uma vantagem inicial, obra do acaso ou da intenção, pode determinar o futuro numa luta competitiva.
Mas nem sempre isso ocorre. Fatores históricos, culturais, economicos, financeiros, militares, e a pirataria… interferem no mundo da competição e as vezes o melhor produto perde. Ou melhor, nem sempre o melhor permanece na dianteira.

Mas se tiver uma vantagem inicial, várias amarras podem ser criadas tornando-o hegemônico e sua presença no mercado, avassaladora. Por exemplo, a maioria dos teclados de máquinas de escrever ( e dos computadores) conservam até hoje a seqüência QWERTY ( cinco primeiras letras à esquerda na fileira de cima) .

Instalada nas primeiras e rudimentares máquinas tinha a missão de evitar que as letras se encavalassem para aumentar a velocidade de operação. Hoje este motivo desapareceu, e embora existam alternativas melhores quem iria propor a mudança de um “hábito” que já dura há mais de cem anos? Além disso, interesses dos que detém a patente, conspiram contra uma solução mais eficiente.

A disputa Windows x Linux reflete o mesmo processo.

Mas, a vitória numa competição comercial sempre se associou com os avanços na produtividade. E esta com a inovação e a criação de novos produtos. Tudo isso desaguando e tendo início no binômio ciência e tecnologia.

Que por sua vez são rios que se nutrem nas águas da educação.

Esta é a rainha no jogo de xadrez da competição. Os outros fatores são importantes mas sem a rainha, o jogador geralmente é obrigado a derrubar o rei. Países asiáticos, como o Japão, e a Coréia, no passado e no presente mostram que a formula funciona. Hoje a China e a Índia, dragões adormecidos, começam a soltar fumaça pelo nariz.

Com imensas populações e certas faixas de mais de 100 milhões com níveis de educação formal considerável, já disputam no mercado mundial em campos tão sofisticados como os da tecnologia da informação e a produção de softwares. Ah! Já ia me esquecendo: independencia política também ajuda e muito.

Pode ser o fiel da balança. Entre os BRIC’s ( Brasil, Rússia, Índia e China), a China é o país em melhores condições para “peitar” os Estados Unidos e a União Européia. Olho nela. E o Brasil einh?

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br

fev 23 2011

O Aquecimento Global: Chayanov Revisitado

Em 1920 Alexander Chayanov economista agrário russo publicou em Moscou uma novela que, anos mais tarde, lhe custaria a cabeça. A “Viagem de meu irmão Alexei ao país da utopia camponesa” escrita sob o pseudônimo de Ivan Kremnev cometia a heresia mortal de prever a conquista do poder, em 1934, pelo Partido Camponês em lugar do Partido Proletário ( Bolchevique), e sua consagração em 1984.

Durante 50 anos os camponeses no poder convencidos dos enormes perigos que as concentrações urbanas representavam para democracia eliminariam todas as cidades de mais de 20 mil habitantes.

Os camponeses dominariam a Rússia soviética auxiliados por poderosa ferramenta: o controle do clima. Eliminava-se um dos maiores problemas da agricultura – a incerteza – e os exércitos inimigos (leia-se, os temíveis alemães) que se cuidassem, pois poderiam ser desintegrados por um furacão bem direcionado pela artilharia do Exército Vermelho ( no caso Verde…). A segunda parte agradava a Stalin. Mas a primeira era intolerável e Chayanov foi fuzilado em 1935, acusado de liderar este imaginário e fantástico partido.

Passados mais de 80 anos o controle do clima ainda está muito longe de ser alcançado, se é que algum dia isso será possível. Mas a convicção que a ação humana pode alterá-lo de maneira catastrófica e irreversível ( já pensou no degelo polar?) ganha cada vez mais corações e mentes. Inclusive o das pessoas que contribuem para o efeito estufa.

O problema são os perigosos derivativos do aquecimento global: variações climáticas que devastam a agricultura e elevam o nível do mar. A subida das águas transformaria a bela capital de Pernambuco em enorme recife de concreto. Nova Orleans, Veneza e, especialmente Amsterdam, desapareceriam antes; Cuzco talvez resistisse até o final.

A Holanda, aliás, no início da primavera de 2007, passou pelo período de seca mais prolongado dos últimos 140 anos. Lá, falta d’água só não é mais grave do que a super abundancia. Suspeita-se que os holandeses tornaram-se o povo mais alto da Europa devido à ameaça de afogamento…

A grande diferença com o passado é que agora o “Polluter Pays Principle” torna-se imperativo: queira ou não o poluidor acaba pagando, embora a proporcionalidade nem sempre se aplique. É possível que as perdas decorrentes das mudanças climáticas globais já superem os custos de evitá-las.

E, nem sei se existem métodos solventes para o exercício desta contabilidade embora o protocolo de Kyoto traga algo nessa direção com os chamados Créditos de Carbono. Mas os povos, como as pessoas, aprendem menos pelos acordos e mais pela repetição ou pelo trauma. Ou melhor, pela repetição do trauma ou pelo trauma da repetição.

O Katryna que devastou Nova Orleans, as ondas de seca e calor na Europa, o derretimento de geleiras polares, a evaporação das neves do Kilimanjaro e os pequenos furacões na costa de Santa Catarina talvez sejam as repetições visíveis de traumas que acabem por convencer, enquanto é tempo, os mais recalcitrantes. O Plano B é ensinar, inclusive os que vivem no Nepal, a nobre arte da natação.

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br

nov 15 2010

A Terra: uma “commodity” cobiçada?

A terra, para fins agropecuários ou urbanos vem sendo  comprada e vendida  em escala global.  Seus preços começam a aumentar diante da evidencia de sua escassez relativa. Um agravante: esta “commodity” não pode ser transferida de lugar nem produzida por quem não a possui. Países de grande população como a China ou de pouca terra arável como a Arábia Saudita, mas cheios da grana, já começam a ultrapassar suas fronteiras em busca do fator. A segurança alimentar de seus súditos os leva a adquirir terras na África, na América Latina ou na Austrália. Diretamente, ou associando-se com empresários locais, representantes destes países começam a produzir alimentos e matérias primas no ultramar. Em países como a China – e também a Índia – a situação é ainda mais complicada pois a intensa expansão urbana devora o que antes era terra dedicada a agricultura.

O Brasil, neste campo,  tem vantagens consideráveis. Sua área agricultável chega a mais de 75% de seu território. Nos últimos 40 anos mais de 120 milhões de ha. ( cerca  de 5,5 vezes a área do Estado de São Paulo) foram incorporados à  agropecuária do país tornando-o campeão de exportações das respectivas commodities. Terras baratas, novas tecnologias, livre devastação e  forte demanda externa contribuíram para isso.

Mas a manutenção desta liderança no longo prazo depende basicamente de três condições: a) que a devastação ambiental nos estados do Norte  e do Centro-Oeste seja substituída pelo desmatamento zero; b) que o desenvolvimento científico e tecnológico permita  aumentos substantivos da produtividade sem aumento de área cultivada e, c) que a infraestrutura logística e de transportes reduza os custos de armazenagem e fretes. Por exemplo, seria da maior importância  um corredor rodo-ferroviario eficaz para portos do Pacífico visando redução de fretes para os mercados asiáticos. Sabemos que exportar commodities não é a melhor alternativa. Mas, enquanto não formos capazes de competir com produtos de alta tecnologia e valor agregado, não será um pecado tirarmos proveito desta invejável vantagem competitiva.

A terra, para fins agropecuários ou urbanos vem sendo comprada e vendida em escala global. Seus preços começam a aumentar diante da evidencia de sua escassez relativa. Um agravante: esta “commodity” não pode ser transferida de lugar nem produzida por quem não a possui. Países de grande população como a China ou de pouca terra arável como a Arábia Saudita, mas cheios da grana, já começam a ultrapassar suas fronteiras em busca do fator. A segurança alimentar de seus súditos os leva a adquirir terras na África, na América Latina ou na Austrália. Diretamente, ou associando-se com empresários locais, representantes destes países começam a produzir alimentos e matérias primas no ultramar. Em países como a China – e também a Índia – a situação é ainda mais complicada pois a intensa expansão urbana devora o que antes era terra dedicada a agricultura.

O Brasil, neste campo, tem vantagens consideráveis. Sua área agricultável chega a mais de 75% de seu território. Nos últimos 40 anos mais de 120 milhões de ha. ( cerca de 5,5 vezes a área do Estado de São Paulo) foram incorporados à agropecuária do país tornando-o campeão de exportações das respectivas commodities. Terras baratas, novas tecnologias, livre devastação e forte demanda externa contribuíram para isso.

Mas a manutenção desta liderança no longo prazo depende basicamente de três condições: a) que a devastação ambiental nos estados do Norte e do Centro-Oeste seja substituída pelo desmatamento zero; b) que o desenvolvimento científico e tecnológico permita aumentos substantivos da produtividade sem aumento de área cultivada e, c) que a infraestrutura logística e de transportes reduza os custos de armazenagem e fretes. Por exemplo, seria da maior importância um corredor rodo-ferroviario eficaz para portos do Pacífico visando redução de fretes para os mercados asiáticos. Sabemos que exportar commodities não é a melhor alternativa. Mas, enquanto não formos capazes de competir com produtos de alta tecnologia e valor agregado, não será um pecado tirarmos proveito desta invejável vantagem competitiva.

out 28 2010

O Dilema do Carcereiro

Na Teoria dos Jogos a contradição entre ações individuais racionais e resultados coletivos desastrosos é ilustrada por uma conhecida alegoria denominada “O Dilema do Prisioneiro”.

No Brasil, esta alegoria poderia bem denominar-se “O Dilema do Carcereiro”.

A estória é a seguinte: um perigoso bandido é preso e deve ser mantido incomunicável. A primeira coisa que o poderoso delinqüente faz é ameaçar o carcereiro sentenciando-o à morte se não lhe for entregue um telefone celular através do qual possa prosseguir comandando sua quadrilha e cometendo crimes.

Diante da ameaça, o carcereiro pensa: se cumprir o regulamento e não entregar o celular serei recompensado. Se facilitar o aparelho, e a direção do presídio descobrir serei punido severamente. Mas se não entregar, e algum colega de outros plantões o fizer, o traficante vingativo poderá dar instruções à seus asseclas para que me matem.

A diferença entre ser punido pela direção do presídio e ser morto pelos capangas do bandido é tão grande que é mais “racional” para o carcereiro entregar o celular ao bandido, mesmo que isso signifique uma perda coletiva: êle continuará comandando seu bando e provocando crimes.

A atitude mais racional do ponto de vista individual – a preservação da vida – provoca o pior resultado para o bem estar coletivo. O carcereiro também tem a alternativa de entrar em acordo com seus companheiros para que ninguém ceda às pressões do bandido. Mas ninguém garante que diante das ameaças, o “elo mais fraco” entre os carcereiros ceda e a “frente única” se rompa, chegando o celular nas mãos do prisioneiro. Na melhor das hipóteses reinará entre os carcereiros um clima de forte desconfiança.

Em relação à reforma da Previdencia o governo parece ter feito um acordo inicial “entre carcereiros”. Mas as pressões vindas de várias áreas sensibilizaram alguns parlamentares da base governista que em conjunto com poderosos ministros aparentemente cederam causando grande inquietude nos demais.

Não podemos esquecer que as tentações são feitas para a gente cair nelas; senão não tem graça… No início de julho a linha Maginot de defesa da proposta original de reforma da Previdencia foi vazada. Mas uma operação de retorno à proposta original foi rapidamente montada com a volta do Presidente Lula ao Brasil, depois de longa estadia na Europa. É possível que o acordo entre carcereiros seja reconstruído. Mas um estrago foi feito na imagem do novo governo mostrando que não existe a desejável coesão de sua base de sustentação numa questão tão importante. A desconfiança será a tônica dos próximos lances.

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br

ago 01 2010

Ponzi e Felipe

Em 1949 morreu no Rio de Janeiro – num asilo – um certo Carlo Ponzi, cujo sobrenome virou conceito em economia: o efeito Ponzi. Estelionatário de grande porte aplicou vários golpes nos Estados Unidos e no Canadá nos anos 1920. Ponzi prometia pagar juros alucinantes no curto prazo para quem lhe emprestasse dinheiro que empregava em suas operações de arbitragem internacional com selos postais. O negócio era rentável, mas não o suficiente para pagar os enormes retornos prometidos. O serviço da dívida era coberto, então, com mais empréstimos de novos incautos até o estouro inexorável da bolha financeira.

Preso por 13 anos foi deportado para a Itália, vindo depois a dar com os costados no Brasil. Ao que se saiba, não aplicou nenhum golpe por aqui, mas deixou dois herdeiros: um tenente da Força Aérea, de nome Felipe – que esfolou muita gente com ardil semelhante. Comprava carros a prazo e vendia à vista por preços sedutores. Acabou mal como seu possível inspirador, mas tornou célebre o nome “felipeta”, sinônimo de papel tão micado como as promissórias que assinava.

O outro herdeiro de Ponzi é o grupo de gestores de nossa dívida interna a partir do Plano Real. O governo, “pede emprestado a João para pagar José”, ou num país onde todos deveriam fazer três refeições por dia, “vende o almoço para comprar o jantar”, e, atenção!, oferecendo juros para banqueiro nenhum colocar defeito. Surge então outro efeito, ainda não oficializado, o Tostines: ninguém sabe se a dívida interna é grande porque o déficit (causado pelos juros) é fresquinho ou se o déficit é descomunal porque os títulos da dívida vendem muito.

Para pagar os juros o governo pratica um mega-superávit primário: espreme as contas públicas em mais de 4% do PIB. Mas só consegue pagar a metade. A diferença é coberta com o aumento da dívida, como recomendaria a dupla Felipe-Ponzi. Por mês se vão cerca de 12 bilhões de reais. Grande parte do esforço de arrecadação sai pelo ralo dos juros, e os investimentos ficam a ver navios. Eis aí uma das principais razões para acelerar a queda da taxa de juros no Brasil. Está ao alcance das autoridades monetárias.

A situação internacional nunca foi tão favorável, e a taxa de cambio valorizada contribui para segurar a inflação. Manter a taxa de juros real superior a 10% ao ano é dar um tiro, não no pé, mas na virilha. Ou, se quiserem uma imagem menos sangrenta, é condenar nossa economia a um eterno vôo rastejante: ela decola, mas vai arrancando a copa das árvores que estão no entorno.

Artigo publicado na Revista RAE da EAESP-FGVSP www.rae.com.br

jul 01 2010

O Futuro e seus Gargalos

Três impactos dos anos 70/80  marcaram  profundamente nossa economia. a) a  desvalorização do dólar em  1971 e a crise financeira decorrente; b) o barateamento nos transportes e nas comunicações facilitando  o deslocamento de pessoas,  mercadorias e a transmissão de informações e, c) a reintegração do mundo em um só sistema economico “de mercado” com a  dissolução das economias centralmente planejadas.

Estas três “revoluções”, se desdobraram  no

a) aumento da incerteza e  vertiginosa expansão dos movimentos financeiros especulativos;

 b) no acirramento da concorrência internacional e rápida disseminação global de qualquer crise regional, e

c) na volta à globalização com o retorno da Rússia,  da China e de todo o leste europeu como “players” no mercado mundial.

O fim das economias  socialistas permitiu, nas economias capitalistas, um abandono mais rápido das políticas previdenciarias e de bem estar e uma vitória do conceito de Estado mínimo.

O vizinho socialista onde a economia funcionava mal, mas o emprego, a saúde e a educação marchavam  razoavelmente bem deixara de existir como ponto de referência a ser compensado.

O Brasil foi pego no contra-pé nessa maré, e nossos governos não souberam enfrentar adequadamente a nova situação estratégica . A indústria  sobreviveu ( ao contrário da Argentina p.ex.) mas  herdamos pesadas  dívidas xipófogas:  a externa e a interna. Pagamos tributo aos credores – tupiniquins e tupinambás –  o que  reduz a velocidade de nosso crescimento. E as oportunidades de superação?

Existem, e não são poucas. Se os Estados Unidos e o Japão, e alguns paises da União Européia  retomarem  seu crescimento, mesmo modestamente, somados ao da China, o preço das commodities deverá manter-se num patamar favorável. Hoje somos campeões na exportação de várias delas e temos território e outras condições ecológicas para manter-nos no topo desta pirâmide.

Um razoável trato na infraestrutura de transportes terrestres ( saída rentável para o pacífico ajudaria muito) e um banho de loja em alguns portos e armazéns nos daria uma vantagem competitiva nos mercados asiáticos que poderá durar décadas. Um mega saldo comercial garantiria nossa solvência externa.

Uma atenção especial com a educação e o desenvolvimento tecnologico não faria mal à ninguém. No plano interno, a disciplina fiscal – com tropeços- começa a dar seus primeiros resultados embora isso tenha custado uma pressão tributária que lembra os tempos tristes da derrama. Estas dívidas pesadas exigirão uma saída lenta, dolorosa e perigosa: é como esvaziar uma bolha de sabão sem estourá-la.

A caminhada será longa. O excesso de cautela do governo no ambito da política economica talvez  o exima de cometer grandes erros. Mas também poderá levá-lo a não aproveitar as oportunidades de superação das dificuldades.

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mar 15 2010

Sinais de Recuperação

A economia brasileira dá sinais de franca recuperação. A crise iniciada em 2008 nos Estados Unidos  nos  jogou  na lona – em 2009 – mas o Pib se levantou bem antes da contagem dos dez segundos. A  principal razão foi a solidez do nosso sistema financeiro. Nenhum Banco importante operando aqui teve que ser socorrido, nem quebrou espalhando o vírus da insolvência.

Alguns atribuem o fato à existência de regulamentação e fiscalização do Banco Central. O controle ajudou. Mas, a saúde do sistema deveu-se ao que faz qualquer banqueiro sorrir: um cliente super seguro que paga juros estratosféricos. Este ser dadivoso como sabemos é o governo federal que necessita rolar sua crescente dívida pública.

Nossos Bancos não precisaram sair à cata da galera do sub-prime como ocorreu com os irmãos americanos. Lá, uma taxa de juros (prime) foi fixada no encontro do rodapé com  o assoalho, isto é, oscilando em torno de 1% ao ano a partir de setembro de 2001. Por que? Para reverter as expectativas sombrias depois dos atentados do 11 de setembro. Diante desta taxa irrisória, Bancos e financeiras iniciaram a temporada de caça aos que pagassem mais. Entra em cena a turma do sub-prime: clientes sem garantias, mas dispostos a encarar taxas de juros ( flutuantes) bem mais elevadas. A partir de 2005 a expansão do consumo e o temor de pressões inflacionárias levou o FED a aumentar os juros pegando os endividados no contrapé. Quebradeira geral. O socorro veio com vigorosa intervenção governamental coisa que nem os intervencionistas americanos gostam muito.

No Brasil, ao contrário, com taxas de juros estratosféricas, os balanços dos Bancos nunca foram tão bons. Mas a crise internacional derrubou os preços das exportações e as quantidades exportadas. Como sempre fazem quando perdem mercados, empresários começaram a demitir e/ou dar férias coletivas e reduzir seus planos de investimento. Não adiantaram os apelos do governo para que as empresas segurassem seus trabalhadores, pois  cada demissão ocasiona menor consumo, redução dos lucros, menos investimentos e novas demissões. O círculo vicioso da recessão.

Para quebrá-lo, o governo adotou a política correta: reduziu  preços de carros, linha branca, material de construção, cortando impostos. O consumo se manteve – em alguns casos até aumentou – as demissões foram interrompidas e o Pib não caiu tanto como em outros paises. O crescimento real do salário mínimo e as políticas  sociais como o bolsa família também ajudaram. O ano de 2009 foi um “round” perdido mas que preparou a recuperação dos investimentos e do Pib em 2010. Custo: as contas públicas se deterioraram. Bem, mas deixemos isso para depois das eleições…

fev 23 2010

A Crise Americana e a Armadilha da Liquidez

“Com as baionetas se pode fazer tudo menos sentar em cima delas”. A frase é atribuída a um famoso general francês que dizem morreu envenenado. O mesmo se aplica à taxa de juros: única arma rápida e eficiente contra a desaceleração da economia norteamericana mas que tem seus limites. Em janeiro de 2008 duas reducões somando 1,25% jogaram a Prime Rate para 3,0% dando a medida do problema. Para reforçar, o presidente Bush acenou com alguns cortes de impostos e introdução de subsídios pensando que dissiparia as incertezas mas foi como anunciar que o gladiador era um anão. Na Europa um espiroqueta do mercado financeiro foi descoberto provocando um descomunal rombo num dos maiores bancos franceses. As bolsas despencaram lembrando o refrão: quando sobem, sobem mais do que podem e quando caem, caem mais do que devem.

A pergunta è: até que ponto a Prime Rate deve encolher para estimular o consumo e o investimento produtivo neutralizando a crise originada nas hipotecas subprime e evitar a recessão? Seguida por uma outra: numa sociedade viciada em consumo a redução exagerada dos juros não provocaria um enfraquecimento do dólar a expansão da demanda e pressões inflacionárias indesejadas num ano eleitoral? Estariam os americanos imunes à armadilha da liquidez situação na qual a desconfiança no sistema financeiro e as incertezas sobre o descasamento entre o preço dos ativos financeiros e a taxa de juros leva os agentes a manter recursos monetários ociosos como ocorreu no Japão e o país desliza para a deflação combinada com estagnação? Creio que os americanos ainda deverão sofrer muitos traumas para passar da idolatria, à aversão ao consumo.

Em todo caso o mais provável é que este caia e os americanos tenham que conviver com a recessão, mas combinada com consideráveis pressões inflacionárias fenômeno típico dos anos 1970 e batizado como estagflação. É preciso lembrar também que a taxa de juros básica Americana caiu abaixo da taxa de juros do Banco Central Europeu enfraquecendo ainda mais o dólar frente ao euro. A rolagem do enorme endividamento americano não estaria em perigo? Ou haveria uma especie de armadilha para aqueles que aplicaram suas reservas em títulos do Tesouro Americano isto é em dólares e agora não podem sair como prudentemente fez a “über model” Gisele Bündchen cujos contratos utilizam exclusivamente o euro? E nós?

Bem hoje o Brasil parece estar melhor preparado para enfrentar a desaceleração da economia mundial. Um sintoma interessante é que em janeiro de 2008 a fuga de capitais especulativos que provocou a queda na Bovespa foi em grande medida compensada pela entrada de investimentos produtivos que se movem por considerações de médio e longo prazo. A blindagem das reservas parece razoavelmente sólida garantindo a estabilidade do cambio no curto prazo e por extensão segurando a inflação. A manutenção da taxa Selic no Brasil acima dos 11% é o único fator negativo que alimenta o crescimento da dívida interna e segura a onda expansiva dos investimentos e do consumo. O fato é que não aproveitamos a boa conjuntura internacional dos últimos 5 anos. Nosso expressivo crescimento em 2007 parece ter chegado no fim da festa. O PIB de 2008 talvez acuse os golpes da retração nos Estados Unidos e o sólido impulso de 2007 poderá em parte desmanchar-se no ar.

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jan 15 2010

Crescimento Sustentável?

Nos últimos 60 anos o Brasil teve duas fases bem distintas de crescimento econômico. Nos anos de 50, 60 e 70 o crescimento médio anual do PIB alcançou cerca de 7,0%. Nos anos 80 despencou para apenas1,5%; nos 90 para  2,3% e, na atual década, cerca de 3,0%. A razão fundamental desta queda foi o vertiginoso crescimento do endividamento, tanto externo quanto interno, experimentado a partir dos anos 80. As desvalorizações cambiais destilando inflação, e o aumento dos juros (para atrair recursos externos) desaguando em fortes recessões marcaram nossa economia nos últimos 30 anos. A renegociação da dívida externa nos moldes do Plano Brady em 1994 e o lançamento do Plano Real no mesmo ano afastaram o perigo da hiperinflação. Mais tarde a lei de Responsabilidade Fiscal contribuiu para um ajuste parcial das contas públicas. Uma conjuntura internacional econômica favorável a partir de 2002 permitiu ao Brasil expressivos superávits comerciais e  as reservas aumentaram. Ao mesmo tempo políticas de melhora dos níveis de renda dos setores mais pobres ampliaram o mercado interno. Além disso, a crise internacional de 2008/09 encontrou nosso sistema financeiro com excepcional rentabilidade devido aos juros estratosféricos pagos por um cliente seguro: o governo na rolagem da dívida pública. Nenhum banco grande se afogou no torvelinho embora o Banco Central reduzisse o compulsório para permitir que os menores não quebrassem. Em 2009 a redução de tributos sobre a linha branca, automóveis e material de construção estimulou o consumo evitando uma retração maior do PIB. A crise em alguns paises europeus  como a Grécia não ameaçou até agora um crescimento robusto em 2010 embora em 2009 o PIB, feito caranguejo, tenha andado para trás. Os mais otimistas estimam em 7,0% a expansão do PIB em 2010. Mas este crescimento não parece ser sustentável. A razão central reside na necessidade da rolagem da dívida pública o que exige captar no mercado cerca de 40 bilhões por mês. Isto impede que o setor privado obtenha recursos a baixo custo para investimentos. Sem estes  a oferta não acerta o passo com a demanda e robustas pressões inflacionarias batem à nossa porta. Para contê-las o Bacen dispõe de duas armas: o aumento da taxa de juros Selic e/ou o aumento dos depósitos compulsórios. Ambas comprometem o crescimento no médio prazo. Não contentes ( especialmente a primeira) atraem uma enxurrada de dólares e o real se valoriza passando uma rasteira nas exportações. Os estímulos ao crescimento definham. O PIB, que nos últimos anos vem crescendo no estilo vôo de galinha, repetira a dose? È provável. Embora dessa vez a galinha se apresente mais gordinha…

Em visita ao Brasil, Aldous Huxley, admirado, dizia que o beija-flor se apoiava na própria vibração. Se comparecesse à Bolsa de Valores poderia ter a mesma ilusão. Os mercados financeiros também vibram, é certo. Mas, ao contrário dos  pássaros, às vezes perdem o apoio e desmoronam sem piedade. O néctar seca e os vibrantes vôos dos investidores, que eram sólidos, se dissolvem no ar. Assustadas, as flores se fecham. O crédito some. A crise se instala tendo início o salve-se quem puder.

Na realidade, à diferença da natureza que (se o homem não atrapalhar) reencontra seu equilíbrio, os mercados necessitam forças externas para recuperar o animo. Deixados em completa liberdade tendem a crescer mais do que podem – quando se expandem – e a cair mais (e põe mais nisso…) do que devem quando descem a rampa. Especialmente se a regulamentação e a fiscalização afrouxarem, tipo: deixem os especuladores trabalhar…! Para sair da crise a terapia é (ou era) conhecida: juros reduzidos, a liquidez e investimentos públicos ampliados para gerar empregos, e impostos encolhidos. Políticas monetaristas e keynesianas, abandonam antiga rivalidade e se entrelaçam num abraço amoroso ( de afogados?). Especialistas provavelmente chamados Milton Keynes ou  John Maynard Friedman tornam-se assessores de Barak Obama.

Mas algo não esta funcionando. Ou melhor, há algo novo nessa crise. É como se uma mutação no vírus que a provoca neutralizasse todas as terapias disponíveis, e o organismo continuasse piorando. Será que o crescimento da economia global foi tão acelerado nos últimos anos e agora, na queda, exija doses muito mais fortes destes remédios? Mas o que fazer se a taxa de juros já é praticamente zero (lá, einh!) ou mesmo negativa? Será necessário construir réplicas em tamanho natural das pirâmides egípcias (não as do tipo Madoff-Ponzi é claro) no deserto do Arizona para criar demanda efetiva? Há escassez de poupança ou a falta de financiamento resulta da ausência de confiança? A poupança global não teria se distribuído numa perigosa assimetria: negativa nos Estados Unidos e transbordando nos quase 2 trilhões de dólares das reservas chinesas?

Para retomar os investimentos as empresas deverão primeiro quebrar para depois num processo de destruição criativa schumpteriana se reerguer sobre novas bases como é o caso da indústria automobilística?

São interrogantes que talvez exijam mais tempo para serem respondidas. Mas se não forem, só nos restará dizer: 33!

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